Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 17
Tema 1
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(3):15-17. https://doi.org/10.23911/epifisiolise_2020_05
Epifisiólise Femoral Superior
Dr. a Joana Zagalo 1 , Dr. Diogo Lino Moura 2 , Dr. Luís Maximino 3 , Prof. Dr. Fernando Judas 4
1
Médica Interna de Medicina Geral e Familiar da USF CelaSaúde; 2 Assistente hospitalar de Ortopedia do
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Assistente Convidado de Anatomia da Faculdade
de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC); 3 Assistente Hospitalar Graduado de Ortopedia – Setor
da Anca do CHUC; 4 Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Ortopedia – Setor da Anca do CHUC,
Professor Auxiliar Convidado de Ortopedia da FMUC. Coimbra.
RESUMO / ABSTRACT
A epifisiólise femoral superior (EFS) consiste no deslizamento da metáfise em relação à
epífise proximal do fémur, levando a perda de contacto do colo com a cabeça femorais.
O sintoma mais comum é a dor localizada na região inguinal e face medial da coxa. Ao
exame físico observa-se uma rotação lateral fixa da anca, encurtamento do membro e
limitação dolorosa das mobilidades, principalmente da rotação medial e abdução. O diagnóstico
é baseado na clínica e nas alterações imagiológicas, sendo a radiografia da anca o
gold standard. A EFS pode ser classificada de acordo com a sua evolução temporal e com o
grau e estabilidade do deslizamento metáfise-epífise. Atualmente, o tratamento cirúrgico
mais aplicado consiste na fixação in situ com recurso a um único parafuso, por apresentar
menor risco de complicações em relação às alternativas. Reconhece-se nos dias de hoje
que a deformidade residual de EFS clínicas ou subclínicas está na origem de muitas situações
de conflito femoroacetabular uma causa importante de coxartrose precoce, o que
vem realçar a importância do diagnóstico e tratamento precoces e adequados da EFS.
Slipped capital femoral epiphysis (SCFE) consists of a slipping of the femoral metaphysis from the
proximal femur epiphysis, leading to a loss of contact between the neck and the femoral head. The
most common symptom is pain located in the inguinal region and the medial region of the thigh.
Physical examination shows a fixed lateral rotation of the hip, shortening of the limb and painful
limitation of mobility, mainly medial rotation and abduction. The diagnosis is based on clinical and
imaging findings, with hip radiography being the gold standard. SCFE can be classified according
to the temporal evolution and the slip grade and stability between metaphysis and epiphysis.
Currently, the most common surgical treatment is the in situ fixation with one screw because this
technique presents fewer complications compared to its alternatives. Nowadays, it is recognized that
the residual deformity of clinic or subclinic SCFE is the origin of many femoroacetabular impingement
cases, an important cause of early coxarthrosis, which emphasizes the importance of early
and adequate SCFE diagnosis and treatment.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Epifisiólise femoral superior, conflito femoroacetabular, anca, artrose, deformidade
Slipped capital femoral epiphysis, femoroacetabular impingement, hip, arthrosis, deformity
défice de hormona do crescimento,
hipopituitarismo, hipogonadismo,
hiperparatiroidismo e o défice grave
de vitamina D como fatores predisponentes
ao desenvolvimento de
EFS. 8-11 A exposição a radioterapia
e a traumatismos são igualmente
referidos como fatores de risco para
o desenvolvimento da doença. 12 A
descrição de um maior número de
casos de EFS em famílias aponta
ainda para uma provável contribuição
hereditária. 13
Clínica
O aspeto dominante da apresentação
clínica da EFS é a dor, que é
frequentemente precedida de uma
queda ou colisão. A localização da
dor é variável, sendo mais frequente
na região inguinal e face medial da
coxa. No entanto, a dor por vezes
é referida ao joelho, causando
dificuldades no diagnóstico, com
consequente atraso no início do
tratamento. Agrava com a carga
sobre o membro afetado, sendo que
o paciente pode necessitar de apoio
externo para a deambulação. Ao
exame físico observa-se uma rotação
lateral fixa da anca, encurtamento
do membro e limitação dolorosa
das mobilidades, principalmente da
rotação medial e da abdução. 14
A EFS tem várias classificações
que abrangem diferentes aspetos
Definição
A epifisiólise femoral superior (EFS)
é uma patologia típica do sexo
masculino, tendo o seu pico de
incidência entre os 11 e os 15 anos
de idade. 1 Por definição, epifisiólise
significa separação entre a epífise e
a metáfise do osso. Na maioria das
situações de EFS ocorre uma falência
da fise femoral superior que provoca
o deslizamento do colo e metáfise
femorais para anterior, superior
e em rotação lateral, enquanto a
epífise se mantém no acetábulo
em posição posterior e inferior,
causando uma perda de contacto
total ou parcial entre colo e cabeça
femorais (Figura 1). Este deslizamento
pode ocorrer subitamente na
forma aguda ou progressivamente
na forma crónica. Em alguns casos
estabelece-se um quadro agudo
sobre um quadro crónico. A etiologia
desta patologia ainda não está totalmente
esclarecida, sendo provavelmente
de origem multifatorial. Foi
demonstrado que o que determina a
ocorrência de deslizamento que conduz
à epifisiólise é uma insuficiência
na fise do fémur proximal provocada
por um distúrbio na produção de
colagénio, provavelmente por fatores
mecânicos, endócrinos, traumáticos
e distúrbios metabólicos. 2-4 De entre
os fatores mecânicos destaca-se a
obesidade, sendo que mais de 80%
das crianças diagnosticadas com EFS
têm um índice de massa corporal
acima do percentil 95. 5-7 Evidência
crescente tem apontado alterações
hormonais como o hipotiroidismo,
A
B
Figura 1 – A: As setas indicam o sentido
do desvio ântero-superior e em rotação
lateral da metáfise do fémur face à
epífise; B: Radiografia ântero-posterior da
bacia a demonstrar EFS à esquerda.
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