Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2020 | Page 24
Atualidade
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(3):22-23. https://doi.org/10.23911/bicicleta_2020_05
Andar de bicicleta… mas
bem medida!
Dr. Basil Ribeiro
Medicina Desportiva, Riade, KSA
Introdução
A prática de ciclismo, o andar
de bicicleta, é uma atividade de
baixo impacto, que associa o
exercício físico ao passeio e ao
convívio com a família ou amigos.
É um exercício cíclico, no
qual são produzidos milhares
de repetições de modo sempre
estereotipado. Significa que, se
por um lado o baixo impacto
minimiza os efeitos sobre o aparelho
locomotor, sendo bom para os
mais obesos e os com problemas
osteoarticulares, por outro lado pode
ser causa de lesões de sobre-uso,
também por alteração da mecânica
do gesto desportivo.
É um tipo de exercício em que
deve haver emparelhamento perfeito
entre a máquina e o executante.
Tal só acontece se as várias
medidas da bicicleta estiverem
adequadas ao tamanho (estatura)
do ciclista (Figura 1). Para além dos
aspetos relacionados com a bicicleta,
há a considerar os chamados
elementos intrínsecos, do praticante
de ciclismo, em que a carga de treino
e a flexibilidade podem afetar a configuração
da bicicleta. 1
Há duas modalidades principais:
o de estrada e o de montanha (off-
-road). Neste, o risco de lesão traumática
é bastante maior devido às
quedas. A topografia, os obstáculos
imprevistos (pedras ou raízes
grandes, por exemplo), a velocidade
excessiva e a inexperiência poderão
justificar as quedas. Cerca de dois
terços das lesões agudas envolvem
os membros superiores, ao passo
que valor semelhante de lesões de
sobrecarga ocorrem nos membros
inferiores. 2 O mountain bike parece
ser também um desporto de alto
risco para as lesões da coluna
vertebral. 2 A utilização de material
protetor, a melhoria da condição
física e da capacidade técnica são
elementos favorecedores da diminuição
da incidência de lesões 2 , nas
duas modalidades de ciclismo.
As lesões de sobre-uso
Figura 1 – Diagrama esquemático da bicicleta: CS – escora traseira
tubo horizontal; TT – comprimento do tubo horizontal do
quadro; R – alcance (reach); ST – tubo do selim; STA – ângulo do
tubo do selim; HT – testa do quadro; HTA – ângulo da coluna da
direção; WB – comprimento entre eixos; SH – altura do selim; FO
– offset da forqueta. 2
A prática de ciclismo de estrada é
responsável por lesões de sobrecarga,
dependentes da experiência
individual, do tipo de treino / passeio
e da própria bicicleta. A aplicação
monótona, estereotipada, da carga /
esforço, associada à manutenção da
mesma posição
estática durante
bastante
tempo também
devem ser
consideradas. 3
Na resposta a
um questionário,
dos 294
homens e das
224 mulheres
de recreação,
85% referiu
ter tido uma
ou mais lesões
de sobre-uso,
das quais 36%
necessitaram
de apoio médico. O pescoço (referido
em 48,8% das situações), os joelhos
(41,7%), as nádegas/virilhas (36,1%),
as mãos (31,1%) e as costas (30,3%)
foram as regiões mais atingidas. 4
Noutro estudo, observacional, a
região lombar e os joelhos foram
os mais referidos com dor crónica. 5
Contudo, aparentemente as lesões de
sobre-uso estarão sub-documentadas,
já que a existência de dor poderá
permitir a continuação da prática de
ciclismo e a patologia subjacente não
ser contabilizada como lesão, apesar
de condicionar o rendimento. 6 Dos 63
ciclistas de recreação, 67% referiram
níveis elevados de dor, mas continuavam
a andar de bicicleta. Estes
ciclistas continuavam a treinar por
um período de tempo igual aos dos
seus colegas, independentemente da
dor, quase sempre crónica. 5
Tratar o praticante de ciclismo
implica tratar também a bicicleta.
A geometria da bicicleta e o comprimento
dos seus elementos são
fundamentais para a solução do
problema musculosquelético do
paciente. Pequenas alterações nas
medições, por fezes da ordem dos
milímetros, devem ser corrigidas.
Assim sendo, deve ser dado muito
rigor às seguintes medições: altura
do selim, recuo do selim, distância
do selim ao guiador, assim como ao
alinhamento e posicionamento do
pedal. 2 A melhoria da relação biomecânica
praticante-bicicleta é um
elemento importante na prevenção
das lesões de sobrecarga crónica. 2
A altura do selim é um aspeto
importante para a prevenção de
lesões 6-8 , pois a altura inadequada
é fonte de lesões nos joelhos e na
região lombar inferior. Também, neste
caso, a eficiência mecânica (economia
e potência) estará comprometida.
Há dois métodos para determinar
a altura correta:
1. Estático – na posição de baixo
da pedalada, a flexão do joelho
deve estar entre 25 e 35° (Figura
2 – A). 7 A subida do selim de modo
que o ângulo máximo de flexão
máxima do joelho seja de 30 a
35°diminuirá a pressão de contacto
patelofemoral. 6 A utilização
do goniómetro ajudará a calcular
com precisão.
2. Dinâmica – observando no plano
frontal o ciclista a pedalar ver-se-á
se existe movimento excessivo da
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