Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 30
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(1):28-30. https://doi.org/10.23911/CC_entorse_2019_5
Entorse Isolada da articulação
Tibioperonial Proximal em
Futebolista Profissional
Dr. José Pedro Marques 1,4 , Dr. Nuno Anjinho 2,4 , Dr. Sérgio Rodrigues Gomes 3,4
1
Médico especialista em Medicina Desportiva; 2 Fisioterapeuta; 3,4 Médico radiologista músculo-esquelético.
4
Unidade de Saúde e Performance da Federação Portuguesa de Futebol. Lisboa.
RESUMO / ABSTRACT
As entorses do joelho com lesão isolada da tibioperonial proximal são lesões raras e cujo
diagnóstico obriga a elevado índice de suspeição. Apresenta-se o caso de um futebolista
que sofreu uma entorse isolada da tibioperonial proximal durante um jogo de futebol. Foi
instituído um programa de reabilitação com cargas progressivas que permitiu o regresso
bem sucedido à competição ao 11º dia pós-lesão. Apesar da aptidão clínica para competir e
de o ter feito sem intercorrências, a dor e instabilidade residuais só desapareceram ao fim
de 30 dias.
Knee sprains with isolated injuries of the proximal tibiofibular joint are rare and their diagnosis
demands a high index of suspicion. The authors present the case of a soccer player who sustained
an isolated sprain of the proximal tibiofibular joint during a soccer match. We implemented a struc-
tured rehab program with progressive loading, allowing a successful return-to-play on the 11 th day
post-injury. Despite being clinically fit to compete and having suffered no recurrences, that residual
pain and instability only disappeared 1-month post-injury.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Articulação tibioperonial proximal, entorse
Proximal tibiofibular joint, sprain
Introdução
A articulação tíbio-peronial proximal
(TPP) é uma articulação sinovial
localizada entre o côndilo tibial
lateral e a cabeça do perónio. É com-
posta por uma cápsula fibrosa refor-
çada pelos ligamentos tibioperoniais
ântero-superior e póstero-superior. 1
As estruturas do complexo póstero-
-lateral e a membrana interóssea
conferem-lhe estabilidade adicional. 2
As principais funções desta articu-
lação são a dissipação dos stresses
de torção ao nível do tornozelo e dos
momentos de bending tibial. A TPP
tem também um papel importante
na transmissão das cargas axiais
durante a marcha/corrida. 1
As lesões isoladas da TPP são
raras. 2 A maioria dos casos repor-
tados aconteceram em atletas que
praticam desportos que requerem
movimentos repetitivos de rotação
em joelhos fletidos (futebol, para-
quedismo, snowboard, hipismo e salto
em comprimento). 1 O diagnóstico
é clínico, embora dificultado pela
pouca familiarização da comunidade
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médica com esta lesão e com os
sinais e sintomas a ela associados. 3
Deve ser ponderado nos indivíduos
com gonalgia lateral do joelho e
sensação de instabilidade pós-
-traumatismo. A imagiologia pode
ser útil na confirmação da suspeita e
na exclusão dos outros diagnósticos
diferenciais. 3 O tratamento destas
lesões varia consoante a magnitude
das mesmas. Quando há luxação
deve ser feita redução fechada ou
aberta (com estabilização temporá-
ria). 1 Não há na literatura evidência
no que respeita ao tratamento das
“simples” entorses da TPP.
Caso clínico
Futebolista de 18 anos, sexo mas-
culino, com queixas de dor ântero-
-lateral do joelho direito e sensação
de instabilidade. O quadro clínico
desenvolveu-se na sequência de
traumatismo indireto do joelho
sofrido três dias antes durante um
jogo. O mecanismo lesional teria
sido de “torção” do joelho na receção
ao solo após impulsão. Nos três dias
entre o jogo e a nossa observação
tinha estado em repouso. Ao exame
objetivo não apresentava deformi-
dades (ex: aumento da proeminên-
cia óssea da cabeça do perónio), a
amplitude articular estava mantida
e não apresentava derrame articular.
Os testes ligamentares e meniscais
foram negativos, com exceção do
stress em varo que era doloroso.
Apresentava dor na hiperextensão
do joelho e na palpação e mobiliza-
ção da cabeça do perónio. Não tinha
clínica de lesão do nervo peronial
comum. Fez-se ressonância magné-
tica do joelho que revelou achados
compatíveis com entorse isolada da
TPP (Figuras 1 e 2).
Foi delineado um programa de
reabilitação com o intuito de prepa-
rar o atleta para um torneio que se
avizinhava (Tabela 1). Ao 9º dia após
a lesão integrou o treino sem limita-
ções. Nos dias seguintes referia dor
de 2/10 na Escala Visual Analógica,
tendo sido dado como apto para
o jogo que se realizou ao 11º dia.
No final do jogo referiu ter sentido
alguma dor e instabilidade residual,
que não teriam condicionado o seu
desempenho. Nos dias seguintes
o estado clínico era sobreponível,
tendo voltado a jogar ao 16º dia.
Voltou a referir a mesma sensação
de instabilidade e dor residual, sin-
tomas estes que não referia durante
os treinos. Após o fim do jogo foi
para férias com indicação para se
manter ativo fisicamente. Durante
este período participou em jogos de
futebol recreativo e esteve atento
aos sintomas. A sensação de instabi-
lidade e a dor residual desaparece-
ram 30 dias após a lesão.
Discussão
A literatura respeitante a lesões
da TPP é escassa e a que existe diz
respeito a luxações ao nível desta
articulação. 1-7 No caso que reporta-
mos, a lesão capsuloligamentar não
se associou a episódio de luxação.
Admitimos, contudo, que possa ter
acontecido um episódio de subluxa-
ção com resolução espontânea e sem
que o atleta se apercebesse. Assim,
ao longo desta discussão, vamos
reportar-nos sobretudo à literatura
existente sobre luxações da TPP.