Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 31

O diagnóstico é frequentemente difícil. Para isso contribuem a ausência de referên- cias relativas a esta lesão na maio- ria dos livros de texto de medicina desportiva e orto- pedia, o reduzido número de casos clínicos reportados, a ausência de sinais Figura 1 – Imagem RM axial em DP FS: Rotura parcial inters- e sintomas específi- cos e a dificuldade ticial do ligamento tibioperonial anterior associada a edema peri-articular (seta vermelha) e distensão do ligamento tíbio- de interpretação dos peronial posterior (ponta de seta branca). achados imagio- lógicos. 6 Alguns autores acreditam que as lesões da TPP são mais comuns do que se pensava previamente e que podem estar a ser sub-diagnosticadas. 7 A lesão da TPP tem de ser sempre considerada perante uma dor lateral do joelho após trau- matismo. Outros achados sugestivos incluem a dor à palpação da cabeça do perónio (e sua mobilização) e uma proeminência óssea lateral no caso de Figura 2 – Imagem RM sagital em DP FS: Rotura parcial ter havido luxação. 1 intersticial do ligamento tibioperonial anterior (seta verde) A incapacidade associada a discreta contusão óssea da cabeça do perónio funcional associada (ponta de seta vermelha). depende do grau da lesão e pode ser mínima nas lesões O mecanismo lesional mais de tipo 1. Quando se suspeita de comumente descrito é o de um lesão da TPP é mandatório pesquisar movimento de rotação com o joelho sinais de lesão do nervo peronial em flexão (corresponde à posição de comum e fazer o exame clínico do relaxamento do bicípite femoral e do tornozelo. 1,7 Entre os possíveis diag- ligamento colateral lateral) e o tor- nósticos diferenciais incluem-se as nozelo em inversão e flexão plantar. 4 lesões do menisco externo, as tendi- Não conseguimos ter acesso a ima- nopatias do bicípite femoral, a lesão gens da lesão, mas é provável que o do ligamento colateral lateral e as mecanismo tenha sido o mesmo no lesões do complexo póstero-lateral. 7 caso que reportamos. Quatro tipos A radiografia (AP e perfil) bilate- de luxação da TPP foram descritos ral pode ser útil para confirmar o por Ogden, sendo que o tipo 1 cor- diagnóstico nos casos de luxação. responde a “movimento ântero-pos- No entanto, a maioria dos autores terior excessivo sem luxação” 5 e será refere a TAC como exame de elei- aquela categoria na qual melhor se ção nestes casos. 1 No nosso caso as enquadra a lesão que apresentamos. hipóteses de diagnóstico colocadas inicialmente foram a lesão do liga- mento colateral lateral e da TPP, não excluindo totalmente uma lesão do menisco externo. Acresce que não havia deformidade compatível com luxação da TPP. Foi com base nisso que foi realizada RMN e não a radiografia. No que respeita ao tratamento, alguns autores já se debruçaram sobre as melhores opções terapêu- ticas para os vários tipos de luxa- ção. 1,4,7,8 Em relação ao tratamento das entorses simples sem luxação a literatura é omissa. Consequen- temente, toda a planificação da reabilitação foi feita com base nos princípios gerais da reabilitação das lesões capsuloligamentares e com o aporte dos sinais e sintomas que o atleta ia reportando. A escassez da literatura relativa a entorses isoladas da TPP dificultou a nossa tarefa no que respeita ao esta- belecimento do prognóstico. 1 Uma das conclusões que talvez possamos tirar deste caso é que é possível ter um atleta a competir ao mais alto nível 10 a 15 dias após uma lesão deste tipo. No entanto a recuperação completa, com total desapareci- mento das queixas, parece ser mais tardia e só se dar pelas 4 semanas. Bibliografia 1. Van Seymortier P, Ryckaert A, Verdonk P et al Traumatic proximal tibiofibular dislocation. Am J Sports Med. 2008; 36:793-798. 2. Burke NG, Robinson E, Thompson NW. An isolated proximal tibiofibular joint dislocation in a young male playing soccer: A case report. Cases J. 2009; 2:7261. 3. Forster BB, Lee JS, Kelly S, et al. Proximal tibiofibular joint: an often-forgotten cause of lateral knee pain. Am J Roentgenol. 2007; 188:W359-W366. 4. Ahmad R, Case R. Dislocation of the fibular head in an unusual sports injury: a case report. J Med Case Rep. 2008; 2:158. 5. Ogden JA. Subluxation and dislocation of the proximal tibiofibular joint. J Bone Joint Surg Am. 1974; 56:145-154. 6. Sarma A, Borgohain B, Saikia B. Proxi- mal tibiofibular joint: rendez vous with a forgotten articulation. Indian J Orthop. 2015; 49(5):489–495. 7. Sekiya JK, Kuhn JE. Instability of the proximal tibiofibular joint. J Am Acad Orthop Surg. 2003; 11:120-128. 8. Kruckeberg BM, Cinque ME, Moatshe G et al. Proximal Tibiofibular Joint Instability and Treat- ment Approaches: A Systematic Review of the Literature. Arthroscopy. 2017; 33(9):1743-1751. Revista de Medicina Desportiva informa maio 2019 · 29