Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 8

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(3):6-9. https://doi.org/10.23911/FMUP_maio_2019 O que andamos a ler Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos e comentados. É uma página aberta a todos os colegas que pretendam colaborar descrevendo ou comentando temas de medicina desportiva. Automated External Defibrillator and Emergency Action Plan Preparedness Amongst Canadian University Athletics 1 Dra. Catarina Reis Lima a) Centro Hospitalar do Algarve Resumo e comentário Nesta edição trago para comentário um artigo do Canadian Journal of Cardiology, intitulado “Desfibrilhado- res automáticos externos e prontidão dos Planos de Emergência no des- porto universitário canadiano”. 1 Baseando-se na premissa de que a probabilidade de sobrevivência de um atleta jovem que sofra uma paragem cardíaca é superior a 85% se o evento for presenciado, se existir um Plano de Emergência e se a vítima for imediatamente submetida a mano- bras de reanimação e desfibrilhação 2 , os autores deste trabalho propuse- ram-se averiguar a presença destas condições nas universidades canadia- nas com equipas desportivas oficiais. O método utilizado consistiu no envio de questionários a 65 univer- sidades canadianas membros da U-SPORTS (instituição que regula o desporto universitário do Canadá), visando a existência, ou não, de um desfibrilhador automático externo (DAE), bem como a prontidão com que pode ser aplicado um Plano de Emergência (PE) nas diferentes instalações desportivas. Considera-se 6 maio 2019 www.revdesportiva.pt um PE uma estratégia estruturada e escrita, específica para cada instala- ção desportiva, que deve abordar tópi- cos essenciais, como a comunicação, o pessoal necessário, o equipamento e a transferência do atleta para o hospital. O questionário foi enviado diretamente pela administração da U-SPORTS para cada diretor despor- tivo dos referidos estabelecimentos. Apenas 36 das universidades inqui- ridas (55%) responderam. Os resulta- dos obtidos por esta equipa de inves- tigadores, não sendo insatisfatórios, deverão ser encarados com um olhar crítico, tendo em contas as limitações deste estudo. Todos os inquiridos declararam a existência de um DAE in loco em todos os eventos desporti- vos. Durante os treinos esta disponi- bilidade decresce para 94% e ainda mais para desportos que decorram fora do estádio ou do ginásio, onde a disponibilidade do DAE desce para menos de metade, com uma distân- cia média aproximada de 150 metros até ao aparelho mais próximo. No que respeita ao treino de Suporte Básico de Vida, os resultados são também globalmente positivos: 91.6% das instituições reportam a presença de uma pessoa com formação na área em todos os jogos oficiais e 2/3 das universidades consideram o treino em DAE e ressuscitação cardiopulmonar obrigatório para o pessoal da área. Quanto ao PE, 86% das instituições que responderam referem que é revisto anualmente (as restantes fazem-no com uma frequência menor). Aquele que é talvez dos parâme- tros mais importantes a reter neste estudo é o tempo estimado de res- posta (evento – uso do desfibrilhador): 47 % dos inquiridos referem tempos estimados inferior a 3 minutos; 42% entre 3 e 5 minutos; 8% entre 5 e 7 minutos e 3% reportam mais de 7 minutos até à desfibrilhação. Está demonstrado na literatura que a presença in loco de um DAE é o mais forte preditor de sobrevi- vência sem sequelas neurológicas numa paragem cardiorrespiratória. 3 Tendo em conta que os consensos internacionais recomendam que um DAE deve estar, no máximo, à distância de uma caminhada de 3 minutos do local de jogo 4 , e que um tempo abaixo de 3 a 5 minutos entre a paragem e o primeiro choque é fortemente aconselhado 5 , diria que os resultados obtidos neste trabalho são satisfatórios, mas com margem para melhorar. Os autores dão par- ticular destaque à importância do treino do PE em desportos praticados no exterior do estádio ou do ginásio, em que a distância de ida, procura do DAE e regresso ao local (média aproximada de 300 metros) pode levar a atrasos na desfibrilhação. Gostaria também de deixar à con- sideração do leitor a seguinte ques- tão: será que é aceitável que apenas 55% das universidades visadas prestem contas relativamente a este tema? Os próprios autores admitem que pode estar presente um viés de resposta, com as instituições com pior preparação neste sentido a evi- tarem responder, e que, assim sendo, estes tempos médios de atuação estejam largamente sobrestimados relativamente aos resultados reais! Outra limitação óbvia deste estudo é que os tempos de resposta não foram de facto mensurados, e sim apenas estimados pelos próprios inquiridos, o que pode influenciar a veracidade dos dados obtidos. Parece-me inadmissível que quase metade das universidades com equipas desportivas não tenham respondido ao inquérito, especial- mente tendo em conta que este visa um tema de natureza tão (queiram perdoar o pleonasmo) vital quanto a vida dos atletas. A implementação das regras básicas de segurança deve ser fiscalizada pelos organismos próprios e sanções devem ser apli- cadas quando estas não estiverem a ser cumpridas. Interessa igualmente