Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 4
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(3):2. https://doi.org/10.23911/Entrevista_maio_019
Prof. Doutor Jorge
Ruivo
Direção Clínica das
Conchas
Docente Universitário
Especialista em
Medicina Interna
Pós-graduado em
Medicina Desportiva
Como nasceu o interesse pela
Medicina do Exercício?
Seguramente derivou da
prática de judo de alta com-
petição e do bem-estar físico e
psicológico que a mesma me
proporcionou durante muitos
anos, aliado ao fascínio pelo
trabalho da equipa médico-
-fisioterapeuta que acompa-
nhava a equipa. Da medicina
da prevenção/reabilitação
de lesões e da performance
desportivas rapidamente comecei a
interessar-me mais ainda na adap-
tação terapêutica dos protocolos
de treino para populações clínicas.
Esta mudança de destinatários e de
foco despontou durante os meus
anos universitários, porque sentia
que simplesmente o que me ensi-
navam na Escola médica não era
suficente ou, pelo menos, ficaria
aquém de tudo o que podemos ofe-
recer aos nossos doentes.
Foi assim que surgiu a Clínica das
Conchas?
Sim, foi em 2004. Por vontade do
pai, Clínico Geral, e dos dois irmãos
recém-licenciados (eu, médico e
o meu irmão, fisiologista do exer-
cício) surgiu o projeto familiar de
montar uma Unidade clínica com
ginásio que conjugasse a acuidade
diagnóstica e segurança do acom-
panhamento médico-desportivo
com os benefícios da prescrição
de exercício com intuito terapêu-
tico por fisiologistas do exercício e
fisioterapeutas. Passados 15 anos
de crescimento profissional con-
tamos já com uma vasta equipa
de colaboradores especializados
no assunto, contudo, os três não
abdicamos do mesmo espírito de
superação e entreajuda.
2 maio 2019 www.revdesportiva.pt
Como vê a sua colaboração com
outros profissionais de saúde?
Foi fruto da minha relação com o
meu irmão Rodrigo que comecei a
aperceber-me que outras classes de
profissionais de saúde, nomeada-
mente os fisiologistas do exercício,
começavam a credibilizarem-se
enquanto classe e a alicerçarem
o seu conhecimento em evidên-
cia científica. O meu irmão é hoje
igualmente docente universitário,
redigimos trabalhos conjuntamente,
porque é assim mesmo que traba-
lhamos na clínica para o sucesso dos
nossos utentes: em equipa. Domina-
mos a mesma linguagem clínica e
do exercício… obviamente cada um
com as suas competências e espe-
cificidades, mas é na conjugação de
saberes entre médicos, fisioterapeu-
tas, enfermeiros, fisiologistas que
julgo ser o futuro da Medicina do
Exercício.
O ensino faz parte do seu ADN?
Sim, acho que uma pessoa só sabe
verdadeiramente algo quando a
consegue transmitir a outro. Tenho
a satisfação de poder transmitir
conhecimento adquirido nesta área
da Medicina do Exercício através
de formações e congressos orga-
nizados pela Clínica das Conchas,
vários congressos de sociedades
científicas afins ao tema e em dois
mestrados ligados à reabilitação
cardiovascular (na Faculdade de
Medicina de Lisboa e na Faculdade
Desporto da Universidade Lusó-
fona).
Que desafios se deparam no
campo da Medicina do Exercício?
A tendência simplista para a utili-
zação indiscriminada de exercício
físico, pela crença que a sua prática
é sempre benéfica, pode ser peri-
gosa. A fronteira entre o benefício
e o risco é estreita e neste contexto
a intervenção médica deve ser
exigente e rigorosa. Só se obtém
uma adaptação orgânica ao treino
se as respostas obtidas pela prática
do exercício não ultrapassarem os
limites de segurança da integridade
anatómica e funcional do doente.
Só com um plano individualizado
e seguro se justifica o incentivo à
prática de exercício físico em doen-
tes. Isto requer, pois, um extenso
conhecimento da fisiopatologia
do esforço e das metodologias de
treino. Infelizmente, a formação
pré-graduada em Medicina do
Exercício ainda não é contemplada
formalmente em todos os cursos
de Medicina, havendo assim uma
lacuna formativa nesta compo-
nente.
E que soluções defende?
Cremos que as vantagens inequí-
vocas do exercício físico aliadas a
um crescente interesse e melhor
preparação de uma nova geração
de médicos (e outros profissionais
de saúde) perante esta ferramenta,
conduzirão seguramente ao desen-
volvimento de uma série de solu-
ções que permitirão a massificação
do conceito no futuro. A integra-
ção de consultas de prescrição de
exercício físico no SNS com refe-
renciação dos utentes para insta-
lações desportivas da comunidade,
ao abrigo de estudos pilotos da ARS
e da DGS, serão seguramente um
passo no caminho certo. Em com-
plementaridade, o modelo opera-
cional de Fitness médico, praticado
na Clínica das Conchas, poderá
ser uma solução, através da hibri-
dização de Cuidados Médicos e a
Indústria do Fitness, permitindo em
última instância melhorar os outco-
mes clínicos dos pacientes, através
de um menu diverso de programas
de saúde baseados em exercício
físico clínico num único local.