Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2019 | Page 10
Já passaram mais
de 35 anos. Era uma
aula teórico-prática
que ouvíamos com
atenção um jovem
professor. Falava
com entusiasmo, de
sorriso aberto e olhos cativantes.
Via-se que lhe dava gozo falar
daquela relativamente recente
técnica de “ver” o coração.
E mostrava imagens, que não
percebíamos, e mais imagens.
Umas eram normais, mas outras
não. Há corações saudáveis, mas
outros não. Mas também há bons
corações e nós ali estávamos, sem
ajuda tecnológica, a ver um bom
coração. É das poucas aulas que
me lembro 35 anos depois. Eu não
poderia esquecer aquele Professor
que nos falava do ecodardiograma.
E tem sido esta a sua vida:
ensinar. Revejo agora uma das
participações na televisão, no
programa “A Praça da Alegria”.
Está a falar sobre os benefícios do
exercício físico. Perturba-o o facto
de exercitarmos pouco o corpo e
acha estranho que as pessoas no
seu hospital usem o elevador
para subir um piso. Defende que
as paragens dos autocarros
devem ser mais espaçadas para
obrigar as pessoas a caminharem
mais. E os doentes cardíacos
também devem fazer exercício
físico, mas devem controlar a
frequência cardíaca. É um
homem de ciência com muitas
publicações em Revistas estran-
geiras desde 1972. Tem partici-
pado em júris, de doutoramento
(20) e de mestrado (40), sendo
quase sempre o Presidente. Tem
sido responsável por cursos
ligados à medicina desportiva, à
medicina do futebol. Tem sido
Professor, tem sido Diretor do
Departamento de Medicina da
FMUP. Vejo agora as últimas
imagens daquele programa.
Continua sereno, afável e com
olhos cativantes que nos obrigam
a estar atentos. Vai agora deixar a
FMUP, pois a idade assim o impõe,
mas, Sr. Professor Doutor Rocha
Gonçalves, está enganado … pois
continuará entre nós a ser aquilo
que gosta de ser: Professor. BR
8 maio 2019 www.revdesportiva.pt
investigadas eram de raça cauca-
siana e com média de idade mais
baixa que os intervalos de referência
da população geral. Para além disso,
é importante salientar que os níveis
de testosterona também podem ser
influenciados pelo consumo de
bebidas alcoólicas, pela dieta e pelo
ciclo menstrual. Sendo este o
primeiro estudo sobre o tema
devidamente desenhado, todos estes
aspetos deverão ser tidos em conta
em trabalhos posteriores na área.
Estes estudos subsequentes serão
de grande importância e deverão
conter amostras mais representativas
para que estas conclusões possam ser
enraizadas e os testes laboratoriais
possam ser adequados e adaptados
pelos laboratórios de medicina
desportiva em função do atleta e do
desporto que pratica. Sendo este um
tema de grande cobertura, várias
vezes noticiado em meios de comuni-
cação social, é importante que haja
um desenvolvimento de métodos de
estudo dos padrões hormonais em
atletas contendo o menor viés
possível. Se assim for, iremos com
certeza testemunhar uma diminuição
de resultados falsos-positivos, tal
como um aumento da transparência
no desporto em geral.
Laura Roli, Sara De Vincentis, Marco
Bruno, Luigi Rocchi, Tommaso Trenti,
Maria Cristina De Santis, Gustavo Savino.
Testosterone, cortisol, hGH, and IGF-1
levels in an Italian female elite volleyball
team. Health Sci Rep. 2018 Mar 9;1(4):e32.
1
Aluno da pós-graduação em Medicina
Desportiva da Faculdade de Medicina do
Porto. Interno Medicina Geral e Familiar.
USF Arquis Nova. ULSAM. Darque.
2
Heart rate measures from the Apple
Watch, Fitbit Charge HR 2, and
electrocardiogram across different
exercise intensities 1
Dr. Paulo Fernandes 2
Medicina Geral e Familiar.
Águeda.
Resumo e comentário
A crescente prescrição de exercício
físico tem exigido um aperfeiçoa-
mento técnico e científico constante.
Nesse sentido o princípio FITT
(Frequência, Intensidade, Tempo e
Tipo) tem vindo a ser o mais popu-
larmente utilizado, onde a avaliação
da intensidade do exercício físico
praticado tem evoluído constante-
mente. A frequência cardíaca (FC)
tem sido um parâmetro utilizado
para avaliar a intensidade do exercí-
cio, mas durante muito tempo foi de
difícil acesso ao praticante comum.
Nesse sentido, os autores deste
trabalho experimental procuraram
investigar qual a validade da medida
da frequência cardíaca em dois
dispositivos de pulso populares, em
comparação com a avaliação eletro-
cardiográfica, o gold standard na moni-
torização da frequência cardíaca.
Na realização do estudo foram
selecionados 30 adultos jovens após
realização de uma breve história clí-
nica e aplicados os critérios de exclu-
são, tais como o índice de massa
corporal (IMC) >30 kg.m -2 , tensão
arterial em repouso superior a 140/90
mmHg, FC em repouso acima de
100 batimentos por minuto, doença
major prévia ou incapacidade para
praticar exercício físico com intensi-
dade moderada a vigorosa.
O protocolo de estudo foi realizado
após consentimento informado e
avaliação antropométrica dos
participantes, com a colocação de
elétrodos para realização de eletro-
cardiograma (ECG) de 12 derivações
e os dispositivos em estudo, o Apple
Watch no punho direito e o FitBit
Charge HR 2 no punho esquerdo.
Estes foram orientados para fora da
visão dos participantes, de forma a
facilitar a recolha de dados por parte
dos investigadores.
A avaliação foi realizada em três
fases: um período de aquecimento (3
minutos sentado numa cadeira e 2
minutos de pé na passadeira), seguido
do protocolo de Bruce e finalizando
com uma fase de arrefecimento.
Durante estas fases, a FC foi avaliada a
cada minuto, entre o segundo 50-55, o
investigador da esquerda avaliava a FC
no FitBit Charge HR 2 e no ECG; entre o
segundo 55-60 o investigador da direita
avalia a FC no Apple Watch e no ECG.
Foi calculada para cada partici-
pante a média das FC para cada
nível de intensidade através dos
dados obtidos pelo ECG. O método
da frequência cardíaca de reserva
(FCR) foi utilizado para calcular
o intervalo de valores para cada