Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2016 | Page 18

massagem , tração , acupuntura , entre outros , não têm evidência científica de eficácia na dor discogénica 1 . A manipulação está contraindicada na hérnia discal aguda 22 .
Uma indicação adequada é essencial para o sucesso do tratamento cirúrgico . A intervenção cirúrgica está indicada em situações de clínica evidente de radiculopatia ( Figura 1 ), com distribuição compatível com as alterações encontradas na ressonância magnética , presença de défices neurológicos , incapacidade funcional e não resposta ao tratamento conservador 1 . A presença de défices neurológicos progressivos e a síndrome de cauda equina são urgências cirúrgicas . Esta última síndrome é causada por compressão de várias raízes raquidianas abaixo do cone medular e manifesta-se por lombalgia , défices neurológicos nos membros inferiores e disfunção urinária e intestinal 2 , 23 .
Na população em geral foi demonstrado que a discectomia ( extração parcial ou total do disco herniado ) permite alívio sintomático e recuperação funcional mais precoce em relação ao tratamento conservador , mas os resultados a longo prazo entre os dois tipos de tratamento são idênticos 2 , 24-26 . Em atletas este tema está menos estudado , havendo na literatura alguns estudos , a maioria retrospetivos , com conclusões pouco uniformes , uns com resultados semelhantes entre os dois tipos de tratamento 3 , 27 e outros que favorecem ou o tratamento cirúrgico 18 , 28 , 29 ou o conservador 29 . Estes estudos têm várias limitações metodológicas em termos comparativos , entre as quais os múltiplos fatores que podem contribuir para enviesar os resultados e que não são considerados , tais como idade do desportista no momento do diagnóstico , género , estado prévio de saúde , gravidade dos sintomas , presença ou não de radiculopatia e de sinais neurológicos , programa de reabilitação , motivação para regresso ao desporto , qualidade da cirurgia , diferentes características e exigências dos vários desportos , obrigações contratuais , decisões do agente ou treinador , entre outros 3 , 20 .
Não existe atualmente evidência científica para afirmar uma técnica cirúrgica de eleição no tratamento da hérnia discal em desportistas , mas recentemente tem sido dada preferência a técnicas minimamente invasivas de discectomia , entre as quais a microdiscectomia ( com recurso a microscópio ( Figura 3 ). Em teoria , uma intervenção cirúrgica menos invasiva , com menos agressão aos músculos paravertebrais , pode ter vantagens na manutenção da função muscular e estabilidade da coluna lombar e numa recuperação funcional precoce 1 , 31-33 . Watkins RG 4 th et al reuniram 171 desportistas profissionais com hérnia lombar e verificaram que 89.3 % dos indivíduos submetidos a microdiscectomia regressaram à atividade prévia em média 5,8 meses depois 34 . Os autores afirmam que a probabilidade do atleta regressar ao desporto após microdiscectomia lombar é de 50 % aos 3 meses , 72 % aos 6 meses , 77 % aos 9 meses e 84 % aos 12 meses 34 . A fisioterapia e os exercícios de estabilização central permitem aliviar a carga axial sobre o disco e são fundamentais na recuperação do atleta 1 .
Os critérios para regresso à prática desportiva após tratamento de hérnia discal em atletas estão pouco definidos , sendo que a maioria dos médicos avalia individualmente cada caso , de acordo com ausência de queixas álgicas , mobilidade da coluna completa e indolor , exame neurológico e força muscular normais e ausência de sinais radiográficos de instabilidade 1 .
Conclusão
Os métodos de diagnóstico e tratamento ideais das discopatias sintomáticas em atletas permanecem um tema de debate e de controvérsia , havendo resultados variados e por vezes contraditórios na literatura . São necessários mais estudos prospetivos controlados e aleatorizados de grande dimensão e a longo prazo em desportistas , de modo a determinar quais as abordagens ideais para as lesões discais associadas ao desporto . Face à evidência atual , na presença de um quadro clínico de lombalgia e radiculopatia , o atleta deve ser avaliado clinicamente . Na suspeita de patologia discal deve ser realizado o estudo por ressonância magnética da coluna lombar . O tratamento deve ser individualizado e , de modo geral , inicia-se com uma abordagem conservadora , estando a cirurgia reservada para situações de sintomatologia persistente , em que há clínica evidente de radiculopatia compatível com as alterações imagiológicas , presença de défices neurológicos , incapacidade funcional e não resposta ao tratamento conservador . É importante procurar que a cirurgia seja evitada naqueles atletas cuja patologia discal pode ficar assintomática e também evitar o prolongamento desnecessário de um tratamento conservador infrutífero que afasta o atleta da prática desportiva e diminui as probabilidades de sucesso do tratamento cirúrgico .
Bibliografia
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