Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2013 | Page 8

Caminhar com pesos nos tornozelos Caminhar constitui um excelente modo de exercício físico, para além de ser uma atividade física fundamental na vida quotidiana. Qualquer pessoa a pode praticar, não exige horários fixos, é barata e o equipamento resume-se a um bom (almofadado) par de sapatilhas e alguma vontade. É um exercício aeróbio que praticamente não tem contraindicações. Existe, contudo, vontade de aumentar a carga externa no sentido de tornar a caminhada mais difícil e assim colher mais benefícios para a saúde. A colocação de pesos em torno dos tornozelos tem sido considerada, mas importa saber se tal é benéfico. A marcha é definida pelo comprimento e pela velocidade da passada. Em condições normais, existe harmonia e a eficiência mecânica é superior. A colocação de pesos nos tornozelos vai alterar toda a biomecânica, com alteração do centro de gravidade corporal e da cadência da marcha. Diz-se que o corpo humano não está feito para transportar pesos nos tornozelos e que tal altera toda a dinâmica da marcha, para além de potenciar o aparecimento de lesões ao criar esforço adicional sobre as articulações e músculos, pois é preciso aumentar o controlo sobre o movimento alterado pela colocação de pesos na extremidade inferior das pernas. Certamente que se queimarão mais calorias, mas também se aumenta a probabilidade de lesão, pelo que não vale a pena inventar. A biomecânica é algo escondido que vive dentro de nós, que é importante para o bem, mas também pode ser responsável pela lesão. Não nos metamos com ela. Se se pretende aumentar a intensidade da marcha, então poder-se-á optar por aumentar a velocidade por curtos períodos (entre 2 ou 3 postes de iluminação, por exemplo), que é o treino intervalado dos atletas ou, nos fisicamente mais ativos fazer curtos períodos de corrida, aos quais se segue a marcha normal. http://www.daveywaveyfitness. com/wp-content/uploads/2010/ 11/ankleweights.jpg 6 · Maio 2013 www.revdesportiva.pt suar (perda de água e de sal/sódio) e depois essa água deve ser evaporada. Toda aquela que cai no chão ou é limpa pela toalha é ineficaz para este processo, pelo que é um grande desperdício de recursos hídricos. Importa, então, reidratar ao longo da caminhada ou de outro exercício ou desporto mais intensos. Para além da água perde-se também sódio, o qual é fundamental para a hidratação e retenção de água pelo corpo 6. O “branco” que se nota na t-shirt escura é sal e assim se avalia a pessoa grande perdedora de sal na sudação. É suposto que antes da caminhada o sujeito esteja bem hidratado, com produção de urina amarelo claro, com o peso corporal habitual e que, depois, ao longo do exercício vá bebendo cada 15-20 minutos 150-200 ml de líquidos de acordo com as condições ambientais e com a taxa de sudação. A utilização de algum sal na bebida ajuda à retenção de água no corpo. O magnésio também é importante. A bebida desportiva é assim uma boa companhia para a caminhada … e escolher bem o calçado A regra é simples: escolher calçado bem almofadado para absorver a energia proveniente da força de reação do solo aquando da passada. Esta energia terá de absorvida pelo corpo, começando pelo pé e terminando na coluna vertebral, depois de passar pelo joelho e pela anca. A passada provoca uma força de reação igual ao peso do corpo o que representa algumas toneladas no final de uma longa caminhada. Mas se for em corrida, esta força de reação pode ser cerca de 2,5 vezes o peso do corpo, o que aumenta grandemente a quantidade de energia a absorver pelo organismo. Contudo, e no entretanto, as cartilagens articulares vão sofrendo e as dores nos ossos (cabeça dos metatarsianos e calcâneo) vão aparecendo. Importa, então, escolher bem as sapatilhas ou colocar palmilhas amortecedoras dentro dos sapatos de salto baixo. Já agora, os obesos e os portadores de artroses nos joelhos ou nas ancas devem ser muito aconselhados em relação à indicação para a realização de caminhadas, pois poderá haver benefícios cardiovasculares, mas à custa de grande sofrimento articular. Conclusão É importante caminhar por razões cardiovasculares, de controlo de peso e também de outras não mencionadas neste texto. Contudo, a caminhada deve ser feita com duração e intensidades adequadas, num estado de hidratação correta, com calçado amortecedor e com proteção solar. A vigilância médica não é necessária na maioria das pessoas, mas nos diabéticos, nos portadores de fatores de risco cardiovascular e nos obesos é conveniente alguma ajuda médica. Calçar e vestir bem, e hidratar melhor, são os cuidados que mais se recomendam. Bibliografia 1. Colberg, S. R. et al. Exercise and type 2 diabetes: the American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: Joint position statement. Diabetes Care. 2010:33(12), pp 47-67. 2. Marwick, T. H. et al. Exercise training for type 2 diabetes mellitus: impact on cardiovascular risk: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2009:119(25) pp 3244-62. 3. Donnelly, J. E. et al. Appropriate physical activity intervention strategies for weight loss and prevention of weight regain for adults. Med Sci Sports Exerc, 2009:41(2) pp 459-71. 4. Mendes, R. et al. programa de exercício na diabetes tipo 1. Rev Port Diabetes, 2011:6(2) pp 62-70. 5. Merino, F. Vestuário desportivo. Rev Med Desp informa, 2012:3(2) pp 23-25. 6. Ribeiro, B. Calor, Fadiga e Hidratação. 2010, Editorial Caminho, Lisboa.