Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 3 ), pp . 2 – 3
Entrevista
Prof . Dr . Osvaldo Correia
Secretário-Geral da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo ( APCC )
O que é a Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo ( APCC )?
A APCC é uma associação sem fins lucrativos , que visa a educação e sensibilização em relação aos cuidados a ter com o Sol ( prevenção primária ) e a promoção do diagnóstico precoce do cancro da pele ( prevenção secundária ) pelo estímulo da prática do autoexame e da formação pós-graduada de profissionais de educação e de saúde . Tem mais de 25 anos de existência e desde 2003 tem promovido múltiplas ações junto da população para sensibilização à adoção de comportamentos corretos no convívio com o Sol . Tem sido feita a formação e atualização de profissionais de saúde e realizadas ações diretas sobre a população ( cartazes de rua , ações em praias , parques de cidades ) com a colaboração de personalidades do desporto , como os ex- maratonistas Rosa Mota , Manuela Machado e Paulo Guerra , e da televisão ( Attilio Riccó , realizador de telenovelas e vários atores de telenovelas ).
Em 2003 editamos pela 1 .ª vez um livro didático para crianças , mas com mensagens para todas as idades , em linguagem acessível , intitulado “ Brinca e aprende com o Zé Pintas . Sol … Verão … Cuidados a ter ”. Já vai na 11 .ª edição com cerca de 3 centenas de milhar de exemplares . A APCC disponibiliza ainda folhetos educativos para crianças , adolescentes e adultos . O folheto da fotoeducação exemplifica quais os sinais a valorizar , regras para o autoexame e
cuidados gerais a ter com Sol . Relógios , semáforos de praia e postais de Verão são outras das múltiplas iniciativas da APCC , a qual tem parcerias com os profissionais dos têxteis ( CITEV ), da moda ( Seletiva Moda ), com o Museu da Chapelaria ( S . João da Madeira ), com as Agências Abreu e com os Cafés Delta .
A necessidade da APCC significa que os portugueses de um modo geral são descuidados com o Sol ?
Os portugueses têm evidenciando nos últimos anos uma melhoria bastante significativa nas regras de bom convívio com o Sol . Já conhecem a importância não só da temperatura , mas também dos raios ultravioleta ( UV ), já que muitos deles evitam as horas de maior índice UV , usam cada vez mais os protetores solares e de índice elevado , mas há ainda erros e riscos que importa lembrar para os evitar , tais como : a exposição a solários , ignorando os riscos hoje já bem demonstrados de aumento de risco de cancro da pele , e a realização de férias tropicais , nas férias de Natal , Carnaval e Páscoa , para locais de acentuado índice UV e com horários solares diferentes , originando queimaduras fáceis , numa altura em que a pele não teve tempo para se adaptar e evitar os choques térmicos . Mesmo os de pele escura , que menos frequentemente queimam , têm risco acrescido de cancro da pele pela adoção deste tipo de práticas . As pessoas esquecem-se frequentemente que o Sol “ não dá só na praia ” e a proteção regular em atividades ao ar livre , seja de laser ou profissional , deve ser no dia-a- -dia uma prática corrente , optando sempre que possível pelo vestuário adequado . Há quem julgue que por usar um protetor solar elevado , muitas vezes bem fluido , está protegido da radiação UV durante horas … o que não é verdade .
E a exposição solar não é necessária para a produção de vitamina D ?
A vitamina D é hoje uma preocupação muito frequente . Esta vitamina é muito importante para vários aspetos da saúde , é produzida também pela exposição da pele à luz , mas basta uma exposição diária de cerca de 20 minutos em áreas limitadas ( face , mãos …) para que a pele produza a quantidade máxima possível de ser produzida . Não é por estar horas exposto ( e muito menos na exposição em solários ) que a pele vai produzir mais vitamina D . Quem tiver deficiência de vitamina D deverá , para além de alimentação adequada , tomar suplementos de vitamina D .
Os atletas são certamente um grupo de elevado risco …
Os atletas , particularmente os com exposição solar frequente , pelo número elevado de horas de treino e prática desportiva , em horários de risco ( entre as 12 e as 16 horas , e mesmo entre as 11 e as 17 horas , em dias de maior índice UV ), têm risco acrescido de fotoenvelhecimento precoce ( em particular na face , decote , mãos e antebraços ) e de maior risco de cancro da pele nestas áreas . Acresce que alguns deles efetuam treinos sem proteção adequada em relação ao vestuário . O chapéu , de tipo legionário em que alia a pala de um boné a uma proteção lateral e da face posterior do
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