Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2013 | Page 30
com mobilização ativa assistida,
bicicleta ergométrica, exercícios
com cadeia cinética fechada, treino
propriocetivo, continuando-se o
fortalecimento do aparelho extensor
e permitindo-se a carga total sobre o
membro.
Na fase III (4–6 semanas) foi permitido ao atleta testar e realizar o
primeiro contacto com a atividade
desportiva. Na fase IV (6 semanas),
o jogador realizou treino específico
de manutenção, estando apto para
retomar a atividade desportiva com
o uso de ortótese.
Caso clínico
Os autores apresentam o caso
clínico de um jogador da seleção
nacional de futebol de praia, de 32
anos de idade, que sofreu luxação
traumática da rótula direita, em jogo
oficial da seleção nacional portuguesa, no dia 8 Junho 2012 (Fig. 2).
Foi submetido a um protocolo de
reabilitação rigoroso, com tratamento de fisioterapia intensivo e
personalizado, tendo como objetivo
a recuperação dos estabilizadores
teciduais e ligamentares da rótula
num muito curto período de tempo.
Foi assistido no local pela equipa
médica, que reduziu de imediato
a luxação. Foi transportado ao
hospital local e ao exame objetivo
apresentava hemartrose de médio
volume, edema residual, hematoma
postero-medial e dor na palpação da
face medial do joelho, com teste de
apreensão positivo.
Após o estudo radiológico, que
incluiu também a incidência de
Merchant, foi inicialmente imobilizado com ligadura tipo Robert
Jones e após a chegada a Portugal
com uma ortótese estabilizadora da
rótula. Posteriormente realizou uma
RMN, a qual revelou rotura total
do LPFM, sem desinserção óssea
rotuliana ou femoral e sem lesões
osteocondrais identificáveis.
Após diálogo com o jogador, foi
decidido pela equipa médica o tratamento conservador, tendo o atleta
iniciado protocolo de reabilitação,
com sessões bidiárias. Na fase I (0–2
semanas) foram aplicadas medidas
para controlo do derrame articular,
alongamentos musculares, exercícios em cadeia cinética fechada,
mobilização passiva, adquirindo
uma AA de 0-90º, eletroestimulação
muscular quadricipital e treino em
piscina.
Na fase II manteve sessões bidiárias e iniciou trabalho de ginásio
com exercícios em cadeia cinética
aberta com cargas sub-máximas em
flexão e em extensão. Manteve a eletroestimulação muscular da coxa e
iniciou exercícios de fortalecimento
VMO, isquiotibiais e complexo gastrocnémio-solear. Após mobilização
passiva atingiu a AA de 0-120º. Às 4
semanas realizou treino em piscina,
bicicleta ergométrica, corrida curta
e treino propriocetivo com agachamentos em trampolim com joelho
fletido a 45º, corrida curta em areia
e exercícios de impulsão. Na fase III
teve o primeiro contacto com bola,
efetuando treino técnico, skipping
sem limitações e manteve as sessões
de eletroestimulação, de ginásio e de
piscina, obtendo a AA de 0-125º.
No inicio da fase IV, o jogador participou em jogo oficial de futebol de
praia (5+5 min) no dia 22 Julho 2012
(6 semanas e 2 dias após lesão) e aos
2 meses após lesão inicial retomou
o nível de prática desportiva de alta
competição, sem restrições.
Atualmente (10 meses de follow-up), e após o episódio de luxação
traumática da rótula, encontra-se
assintomático, sem instabilidade
objetiva ou subjetiva, apresenta um
score funcional de Kujala15) igual a
92 e sem episódios de nova luxação.
Discussão
A luxação primária da rótula implica
lesão do LPFM. Alguns estudos
defendem o tratamento cirúrgico,
enquanto outros recomendam tratamento conservador 16,17,18,19. Devido à
insuficiente evidência na literatura,
não há atualmente nenhuma estratégia universalmente aceite para o
tratamento da luxação primária.
A complexidade da instabilidade
rotuliana origina dificuldade na
tomada de decisões. A maioria das
luxações são inicialmente adequadas para o tratamento conservador,
com tratamento fisiátrico dirigido,
apesar da instabilidade recorrente
ser comum.20
Na presença de fragmentos osteocondrais passíveis de fixação cirúrgica, a concomitante reconstrução do
Fig. 2 – Momento da luxação
rótula direita
Fig. 4 – Reabilitação com eletroestimulação, carga progressiva e manipulação articular
Fig. 3 – Imobilização e exame físico
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