uma capacidade regenerativa muito limitada .
Além de estarem presentes em quantidades muito pequenas na cartilagem , os condrócitos possuem atividade mitótica muito baixa e capacidade de migração limitada , o que dificulta a sua ação na regeneração tecidular .
No processo original do implante autólogo de condrócitos ( IAC ) 1 , após colheita das células por artroscopia , procede-se à sua cultura até se atingir 2,6 – 5 milhões de células . As células são posteriormente injetadas na lesão e seladas com um retalho de periósteo . Com esta técnica atingiu-se a regeneração de defeitos isolados da cartilagem e , em alguns doentes , a obtenção de cartilagem hialina , confirmada por biópsia um ano após o implante das células .
Atualmente existem diferentes materiais biológicos que podem servir de suporte celular alternativos ao retalho de periósteo . Como exemplos podem referir-se os de colagénio tipo I / III e de polímeros em gel reabsorvíveis , que passaram a evitar a necessidade de suturas na cartilagem , elas próprias passíveis de criar lesão adicional .
Cerca de 10 000 doentes a nível mundial foram submetidos ao implante autólogo de condrócitos . A maior parte dos grupos em que se realizou este procedimento apresentou bons ou muito bons resultados . Contudo , quando comparadas com outras técnicas de reparação de cartilagem , como a mosaicoplastia ou a microfratura , as vantagens do IAC não são suficientemente claras , especialmente no transplante de primeira geração 2 , 3 , 4 , 5 . No entanto , parece existir vantagem do transplante de condrócitos no subgrupo de doentes com lesões condrais tratadas nos primeiros três anos após o início dos sintomas 5 . Já os transplantes de segunda geração , todavia , parecem conduzir a conclusões diferentes e estudos recentes revelaram melhores valores funcionais em relação às microfraturas 6 , 7 . Uma avaliação a dez anos mostrou que o IAC obteve melhores resultados do que a mosaicoplastia 8 .
No que diz respeito à engenharia de tecidos , o transplante de menisco de colagénio revelou bons resultados numa avaliação a dez anos , quando comparado com meniscectomia parcial 9 . Numa avaliação com menos tempo de seguimento , também o menisco lateral de colagénio mostrou dar bons resultados 10 .
Os efeitos alcançados com tratamento com cultura de células de medula óssea foram também positivos , com bons resultados funcionais , embora com estudos em amostras reduzidas 11 .
A utilização de concentrados de plaquetas com adjuvantes na reconstrução do ligamento cruzado anterior não demonstrou evidência de melhorar a resistência da reconstrução 12 , embora aparente diminuir a dor no local dador na técnica de osso-tendão-osso 13 , 14 .
Ombro
Vários tipos de adjuvantes à sutura da coifa dos rotadores têm sido profusamente estudados . O maior interesse tem recaído sobre a utilização de plasma rico em plaquetas e suas variantes , como a membrana de plaquetas-leucócitos . Parece que existem vantagens dos concentrados de plaquetas na avaliação anatómica e histológica pós-operatória , mas os resultados funcionais são semelhantes com ou sem a sua utilização 15 , 16 , 17 , mesmo nos estudos em que a taxa de re-rotura é menor com a membrana de plaquetas 17 .
Pé e cotovelo
A maioria dos estudos sobre a utilização de concentrados de plaquetas como adjuvantes , no tratamento da rotura do tendão de Aquiles ou na
tendinite crónica são concordantes na ausência de benefício 18 , 19 .
No tratamento de lesões osteocondrais do talus , obtiveram-se bons resultados funcionais pelo recurso ao tratamento com cultura de células de medula óssea colhidas na crista ilíaca , apesar de histologicamente e na avaliação por ressonância magnética não surgir nova cartilagem hialina 20 .
Lesões musculares
Ainda há muito pouca informação sobre a utilização dos concentrados de plaquetas na recuperação de lesões musculares dos atletas . Não abundam os estudos clínicos e os que foram realizados têm baixo nível de evidência 21 , 22 . Estes , no entanto , sugerem um papel positivo na recuperação muscular . Também não existem ainda estudos randomizados , embora tenha sido publicado um protocolo para a realização do primeiro estudo desse tipo 23 .
Conclusão
A evidência científica que fundamenta a utilização das terapêuticas biológicas no trauma desportivo é , muitas vezes , discordante e / ou de baixo nível de evidência . São necessários , pois , mais estudos com níveis de evidência mais elevados , nomeadamente estudos multicêntricos randomizados . De qualquer modo , as aplicações mais bem fundamentadas parecem ser o transplante de
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