Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2013 | Page 13

Tema 2

Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 3 ), pp . 11 – 13

O papel do exercício físico na artrite idiopática juvenil

Dra . Sandra Magalhães 1 , Dra . Sofia Viamonte 2 , Prof . Doutora Iva Brito 3
1
Interna de Formação Específica de MFR , 2 Assistente Hospitalar de MFR . Hospital de Santo António – Centro Hospitalar Porto , 3 Assistente Hospitalar Graduada de Reumatologia do Centro Hospitalar de São João , Professora da Faculdade de Medicina do Porto
RESUMO / ABSTRACT
A Artrite Idiopática Juvenil ( AIJ ) é a doença reumática crónica mais frequente em idade pediátrica e uma causa importante de incapacidade a curto e longo prazo . Os efeitos benéficos da atividade física no normal crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes têm sido amplamente reconhecidos na literatura . Os doentes com AIJ são menos ativos fisicamente que os seus pares saudáveis , perdendo todos os benefícios inerentes à sua prática . Os principais objetivos de um programa de exercício são o aumento da flexibilidade , da força muscular e da capacidade cardiorrespiratória , assim como promover a funcionalidade . A prescrição do exercício de forma clara e adequada a cada doente é uma ferramenta terapêutica importante na AIJ . O aconselhamento médico potenciará os seus benefícios e minimizará as suas complicações . Os autores pretendem com esta revisão reforçar a importância do exercício físico nestes doentes e sugerir algumas recomendações relativamente à sua adequada prescrição .
Juvenile idiopathic arthritis ( JIA ) is the most common chronic rheumatic disease of childhood , causing both short and long-term disability . The beneficial effects of physical activity on normal growth and development of children and adolescents have been widely recognized in literature . Patients with JIA are less physically active than their healthy peers losing all the benefits inherent in its practice . The main goals of an exercise program are the increase of flexibility , muscle strength and cardiorespiratory fitness , as well as promote functionality . A clear and appropriate exercise prescription to each patient is an important therapeutic tool in these patients . Medical advice will enhance its benefits and minimize its complications . The current review attempts to show the physical exercise importance in these patients and provide some recommendations for a correct prescription .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Artrite Idiopática Juvenil , exercício físico , capacidade funcional . Juvenile Idiopathic Arthritis , physical exercise , functional capacity .
Introdução
Artrite idiopática juvenil ( AIJ ) é o termo proposto pela International League of Associations for Rheumatology ( ILAR ) para agrupar e descrever um grupo heterogéneo de artrites de etiologia desconhecida e de início na infância . A sua causa permanece desconhecida , mas têm sido implicados fatores genéticos e ambientais . 1 É a doença reumática crónica mais frequente em idade pediátrica e apesar dos avanços terapêuticos continua a ser uma causa importante de incapacidade a curto e longo prazo . 2 Os efeitos benéficos da atividade física no normal crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes têm sido amplamente reconhecidos na literatura . 3 A atividade física é importante para otimizar a função metabólica , prevenir co-morbilidades e parece ser essencial para o desenvolvimento social , emocional e cognitivo desta população . 4 Esta revisão tem como principais objetivos revelar a evidência atualmente existente sobre os benefícios do exercício físico na AIJ e estabelecer algumas recomendações para a sua adequada prescrição .
Exercício físico na AIJ
Algumas das manifestações clínicas da AIJ , tais como fadiga , dor crónica , rigidez , sinovite e deformidades articulares predispõem ao sedentarismo . Instala-se nestes doentes um perigoso ciclo vicioso , no qual a sintomatologia predispõe à inatividade física que , por sua vez , tende a agravar o quadro clínico . 5 – 9 A literatura tem revelado que de facto na AIJ a atividade física tem sido associada a vários fatores , nomeadamente à gravidade da sintomatologia apresentada , a efeitos laterais dos fármacos utilizados e à ansiedade dos doentes e familiares perante um possível efeito nefasto da sua prática . 9 Os pais das crianças com patologia crónica tendem a superprotegê- -las, isolando-as do convívio social e predispondo-as a um estilo de vida sedentário . Nas escolas é frequente a proibição da prática das aulas de Educação Física pelos próprios professores , revelando , mais uma vez , o receio inerente aos seus potenciais efeitos deletérios .
Alguns estudos têm reportado nos indivíduos com AIJ uma capacidade aeróbia 22 % inferior aos seus pares saudáveis . 10 Estudos comparativos da resposta ao exercício têm sido conduzidos com recurso a prova de esforço em cicloergómetro . Estes têm revelado no grupo de crianças com AIJ valores inferiores de VO 2máx e FC máx
, menor carga de trabalho alcançada e diminuição na duração do exercício efetuado . Estes achados sugerem o descondicionamento 6 , 10 , 12
destes doentes .
A visão atual é de que a capacidade aeróbia não está relacionada de forma significativa com a atividade da doença ou com a sua duração . O sexo e o subtipo de AIJ parecem ser fatores mais relevantes . 11 A diminuição da capacidade aeróbia parece ocorrer de forma mais significativa no sexo feminino e no subtipo AIJ poliarticular fator reumatoide positivo e em menor grau naqueles com AIJ oligoarticular persistente . 11 Myers demonstrou num estudo recente que o amento do VO 2máx correspondente a 1 equivalente metabólico ( 1 MET = 3,5 ml / Kg / min ) resulta na diminuição da mortalidade em 12 %. 12 Assim , à semelhança do que ocorre na idade adulta , a diminuição do VO 2máx pode ter implicações importantes na mortalidade destes doentes .
Vários fatores têm sido implicados nesta diminuição da capacidade aeróbia na AIJ : a inflamação , a anemia , a atrofia muscular , as deformidades articulares e utilização de determinados fármacos ( corticoides ). 13 A anemia contribui para a diminuição da capacidade de
Revista de Medicina Desportiva informa Maio 2013 · 11