Revista de Medicina Desportiva Informa Maio 2012 | Page 25

Rev . Medicina Desportiva informa , 2012 , 3 ( 3 ), pp . 23 – 25

Tema 4

Estratégias para o treino de força na reabilitação respiratória

Dra . Susana Clemente 1 , Dra . Joana Santos 2
1
Pneumologista e pós-graduada em Medicina Desportiva . 2 Fisioterapeuta . Hospital Pulido Valente . Lisboa .
RESUMO ABSTRACT
A reabilitação respiratória , principalmente na vertente do treino físico , parece constituir uma estratégia terapêutica fundamental , já que consegue influenciar positivamente os efeitos sistémicos da doença respiratória subjacente , aliviando os sintomas e otimizando a funcionalidade do doente . O treino de força surge como uma modalidade com particular interesse no doente respiratório , contrariando a disfunção neuromuscular que o carateriza . Os resultados positivos reportados por diversos autores , que treinam estes indivíduos utilizando uma metodologia de treino utilizada em idosos saudáveis , originaram boas linhas orientadoras para a prescrição de treino de força na população de doentes com DPOC . O desafio assenta na criação de condições que permitam ao doente a manutenção de uma vida fisicamente activa , contribuindo para a sua maior autonomia .
Pulmonary rehabilitation , especially with exercise training , seems to be a key therapeutic strategy , as it may positively influence the systemic effects of the underlying respiratory disease , relieving symptoms and optimizing the functionality of the patient . Strength training emerges as a modality with particular interest for the respiratory patient , due to the opposition effect on neuromuscular dysfunction that characterizes the disease . The positive results obtained by several authors , using a training methodology adequate for healthy elderly individuals in these patients , originated guidelines for strength training prescription to patients with COPD . The challenge rests in creating conditions which allow the patient to maintain a physically active life , contributing to his greater autonomy .
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Reabilitação respiratória , treino de força Pulmonary rehabilitation , strength training
Introdução
As doenças do aparelho respiratório constituem um grupo de patologias de importância crescente . O aumento dos fatores de risco , nomeadamente o tabagismo , e o envelhecimento da população fazem prever que a sua incidência continue a aumentar , especialmente no caso das doenças obstrutivas crónicas , da insuficiência respiratória crónica e de alguns tipos de neoplasia do pulmão . As doenças respiratórias crónicas podem ter graves repercussões , quer na qualidade de vida dos doentes , quer também a nível familiar e social 1 , 2 , 3 .
Uma das áreas da pneumologia em que se prevê uma maior necessidade de intervenção no futuro é a da reabilitação respiratória , nomeadamente na vertente do treino físico , já que este tem sido reconhecido como a pedra angular do tratamento dos doentes respiratórios crónicos , sobretudo dos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica ( DPOC ), sobre os quais existe maior evidência científica dos seus efeitos benéficos 1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 .
Fatores limitativos ao esforço
O planeamento do treino físico deverá ser individualizado , devendo- -se , para tal , reconhecer os fatores que limitam o doente ao esforço . O doente respiratório crónico pode apresentar limitações ao esforço multidimensionais , que abrangem fatores respiratórios , cardiovasculares e periféricos 1 , 7 , 8 .
Na DPOC a caraterística distintiva da limitação respiratória é a obstrução das vias aéreas que se acentua na expiração , conduzindo a um fenómeno de hiperinsuflação pulmonar que poderá agravar-se com o esforço ( hiperinsuflação dinâmica ) 1 , 7 , 8 .
O sistema cardiovascular pode ser afetado de diversas formas , destacando-se a redução do volume sistólico , como consequência última do aumento das resistências vasculares pulmonares e pós-carga do ventrículo direito e da hiperinsuflação dinâmica . Neste contexto , são igualmente identificadas disritmias e alterações da hemoglobina , nomeadamente a anemia , e a presença de níveis elevados de carboxiemoglobina nos fumadores 1 , 7 , 8 .
Ao nível periférico podem identificar-se atrofias musculares , disfunções neuromusculares e alterações do estado nutricional 1 , 7 , 8 , 9 . De facto , identificou-se redução da força muscular em 30 a 70 % dos doentes com doenças pulmonares crónicas , mesmo em fases precoces da doença . Esta observação associa-se a pior prognóstico , a maior recurso aos cuidados de saúde e até ao acréscimo da mortalidade 10 , 11 , 12 , 13 . A fraqueza muscular , identificada quer ao nível dos músculos esqueléticos periféricos , quer ao nível dos músculos respiratórios , pode ter origem multifatorial , resultando das manifestações da própria doença ( alterações das trocas gasosas e das concentrações das hormonas endócrinas , inflamação sistémica , estado nutricional ), do seu tratamento ( corticoterapia prolongada ) e de alguns comportamentos , como o sedentarismo e os hábitos tabágicos 10 , 11 , 14 , 15 . Como resultado destes fatores limitativos ao exercício , a clínica é claramente reveladora de uma contribuição majorativa destes sistemas , sendo referido a dispneia e o desconforto muscular periférico
Revista de Medicina Desportiva informa Maio 2012 · 23