Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2018 | Page 26
Dr. José Pedro Marques.
Medicina Desportiva,
Coimbra.
Desporto em fase de crescimento –
riscos potenciais
Foram abordados dois tópicos: a
relação entre a prática desportiva e o
desenvolvimento do conflito femoroa-
cetabular (CFA) tipo CAM e a forma
como se está a tentar por cobro ao
flagelo da patologia de sobreuso do
ombro e cotovelo nas ligas jovens de
basebol. Ao longo dos últimos anos
um grande número de autores tem
investigado a relação entre a prática
desportiva e o desenvolvimento de
CFA. Este interesse foi despoletado
pelo surgimento de evidência que
aponta para: que o CFA seja fator de
risco para a coxartrose; uma preva-
lência aumentada de CFA em atletas;
uma prevalência maior de coxar-
trose em atletas. Em 2015 foi publi-
cada uma meta-análise que reviu a
prevalência de CAM em populações
de atletas, incluindo praticantes de
basquetebol, futebol e hóquei no gelo.
Os resultados mais relevantes foram:
atletas do sexo masculino são 1,9 – 8
vezes mais propensos a desenvolver
uma deformidade tipo CAM; preva-
lência agrupada (por indivíduo) de
29% vs. 19% (controlos); ângulo alfa
de 61º vs. 51º (controlos). A evidência
aponta para que haja uma relação
entre o tipo, intensidade e frequência
da prática desportiva e a probabili-
dade de vir a desenvolver um CAM.
Os desportos como o futebol, hóquei e
basquetebol, que envolvem movimen-
tos repetitivos ao nível da coxofemo-
ral, parecem estar associados a uma
maior prevalência de CAM. Também
os desportistas profissionais parecem
ter uma maior prevalência que os
amadores. No que respeita à relação
entre o desenvolvimento do esqueleto
e as deformidades da anca concluiu-
-se que estas começam a desenvolver-
-se a partir dos 10-12 anos de idade e
que os marcadores de deformidade da
anca (angulo alfa) tendem a agravar
com a idade. O CAM não se desen-
volve após o encerramento das fises.
A fisiopatologia do CAM tem sido
objeto de estudos biomecânicos e
mecanobiológicos. A teoria vigente é
a de que as cargas mecânicas geradas
24 julho 2018 www.revdesportiva.pt
em amplitudes extremas da coxofe-
moral resultam em padrões de stress
local na fise e áreas envolventes. Estas
cargas geram, em osso suscetível (em
fase de crescimento), um estímulo
mecânico para crescimento ósseo
em áreas pouco usuais, fazendo com
que o processo de maturação óssea
se desvie do normal. Quanto maior
este estímulo maior a aposição óssea.
A correlação positiva entre o angulo
alfa e a intensidade de treino e uma
maior prevalência de CAM em atletas
profissionais (portanto que treinam
mais frequente e intensamente)
corroboram esta teoria. O desafio para
o futuro passa por perceber quais
as cargas mecânicas “abusivas”. A
sua identificação abrirá caminho à
implementação de medidas preven-
tivas (recomendações para diminuir
carga de treino enquanto o esqueleto
é imaturo; exercícios compensatórios)
que permitam restaurar o equilíbrio
do estímulo mecânico ao crescimento
ósseo, prevenindo o desenvolvimento
de deformidades tipo CAM. A epide-
miologia lesional no basebol aponta
para um elevado número de lesões de
sobreuso no ombro e cotovelo dos lan-
çadores jovens. Existe desde há algum
tempo evidência robusta que permite
estabelecer um nexo de causalidade
entre aspetos como o número de
lançamentos por jogo, duração da
época, tipo de lançamento efetuado
e a incidência destas lesões. Em res-
posta a isso as entidades competentes
têm vindo a emitir um conjunto de
recomendações que visam proteger
o lançador imaturo do ponto de vista
esquelético. Estas passam por impor
limites ao nº de lançamentos realiza-
dos por jogo, ao nº máximo de jogos/
semana, número recomendado de
dias de repouso após sessão de lança-
mentos, entre outras.
Dr. Alexandre Marques.
Medicina Física e
Reabilitação, Coimbra.
Exame médico-desportivo.
Particularidades.
O exame médico-desportivo (EMD)
é instrumento imprescindível para
aferir a aptidão ou inaptidão dos
praticantes desportivos e não deve ser
encarado como mera resposta a um
requisito burocrático-legal. De acordo
com a legislação vigente, o formu-
lário é disponibilizado pelo Instituto
Português de Desporto, ao abrigo do
programa Simplex. Esquematizando e
seguindo o formulário, temos menor
risco de erros e esquecimentos. Assim,
as histórias pessoais e familiares são
relevantes e podem fazer suspeitar
de situações que contraindiquem
a prática desportiva. É importante
inquirir sobre a existência de casos
de morte não traumática na família
antes dos 30 anos de idade. O pas-
sado desportivo permite saber o tipo
de atleta, o nível desportivo atingido
e as lesões sofridas. É diferente um
jovem de 20 anos que nunca praticou
desporto e vai iniciar a sua atividade
de um indivíduo nas mesmas condi-
ções, mas com 40 an