Revista de Medicina Desportiva Informa Julho 2016 | Page 16

Tema 2 Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (3), pp. 14–16 Treino desportivo com base na integração de fatores que influenciam a prestação nas disciplinas de endurance tendo os limiares como referência Dr. Benjamim Carvalho Médico. Metodólogo do treino de resistência. Viana do Castelo A capacidade de endurance desportiva é avaliada pela capacidade de executar determinado trabalho em determinado espaço de tempo. Pode ser medida em unidades de velocidade, potência ou gasto energético, o qual está relacionado com o consumo de oxigénio para a tarefa executada. Esta capacidade é quase exclusivamente individual e genética. É influenciada no bom ou mau sentido pelo treino desportivo. Cada indivíduo é único em relação á resposta ao treino, quer na sua capacidade de adaptação, quer na capacidade de resistir á fadiga. Depende de fatores funcionais, como a potência máxima ou a velocidade máxima no limiar láctico, que por sua vez dependem da economia de movimento e da capacidade de utilização de oxigénio a nível do limiar lático. O limiar láctico de potência ou velocidade, ao conjugar a capacidade de utilizar oxigénio com a economia de movimento, é o melhor preditor do melhor desempenho desportivo. Já o VO2 máximo, sendo um bom indicador, não tem a mesma acuidade para tal, uma vez que atletas com o mesmo limiar de VO2 têm desempenhos diferentes. Aspetos histológicos e fisiológicos bem definidos, como a densidade capilar a nível do músculo, a capacidade enzimática aeróbia ao nível da mitocôndria (citrato sintase, por exemplo), o tipo de fibras musculares, sendo as fibras vermelhas determinantes na obtenção da melhor economia, o débito cardíaco e a capacidade técnica de utilização dos 14 Julho 2016 www.revdesportiva.pt grupos musculares referenciados ao gesto desportivo são os aspetos determinantes. O objetivo do treino desportivo é estimular de forma adequada a melhor adaptação do organismo ao esforço, estimulando as variáveis acima mencionadas para melhor função, em qualidade e em quantidade. O objetivo é, portanto, aumentar a capacidade de melhorar a produção de energia através do melhor consumo de oxigénio, dependente do débito cardíaco, densidade capilar e atividade enzimática. É, também, elevar o limiar láctico através da potenciação de um melhor consumo de oxigénio no limiar, da melhor distribuição muscular, da produção de potência e do aumento da capacidade em função das fibras vermelhas. O treino será prescrito conforme os princípios gerais do treino, conforme o estado da arte, mas também tendo em conta a individualidade. Cada atleta é único na resposta às cargas, assim como depois na recuperação. Não deve ser esquecido nunca que a recuperação e o descanso são fundamentais, pois a regeneração é feita durante o período de descanso. Deve o treino, também, respeitar o estado de forma Peso 73,5kg Altutra 1,85m Carga (watts) F. Card (bpm) Lactato mMole/L Idade 31 anos 110. Peitoral 3,4mm 145. 100 1,4 4,5mm 180. 111 1,4 6,2mm 215. 124 1,6 8mm 250. 141 2,6 13,4mm 285. 157 4.4 Suprailíaca 5mm 320. 170 9 Coxa 11mm 355. 178 12,7 390. 183 16,4 Axilar Tricipital Subescapular Abdominal Figura 1 – Teste de esforço progressivo: curva que relaciona os valores de lactato (mMole/L)com os da frequência cardíaca (FC)