Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 8

Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(1):6-8. https://doi.org/10.23911/APOO_25anos_2020_1 6.º ENCONTRO CIENTÍFICO APO AME OS SEUS OSSOS Dr. Pedro Cunha Nutricionista. FCNAUP O que faz bem ao osso faz bem a tudo A osteoporose é uma doença crónica caracterizada por alterações na matriz óssea que, em última ins- tância, podem levar a que se criem potenciais zonas de fratura por diminuição da densidade mineral óssea. Como doença crónica, a sua prevalência tem vindo a aumentar e são notórios os seus custos econó- micos para os países, mas também para os doentes, uma vez que todos os anos são perdidos milhões de dias de vida ativa por co-morbilidades da patologia. Uma mensagem chave deverá ser sempre a procura de um trabalho multidisciplinar na preven- ção e na terapêutica da doença. Sendo um problema de saúde, com uma forte componente de prevenção pela alimentação, a Organização Mundial da saúde compila como fatores protetores, com evidência convincente, a adequação dos níveis de Vitamina D, a ingestão adequada de fontes de cálcio e a prática de atividade física. Adicionalmente levanta como possível mecanismo protetor a ingestão adequada de hortofrutícolas. Por oposição, aponta como fatores de risco de evidência convincente a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, peso corporal desadequado e, como mecanismos possíveis, a alta ingestão de sódio, a ingestão de proteína desadequada em quantidade e qualidade. Sabendo que o cálcio é um dos nutrimentos mais importantes para a composição da matriz óssea, é importante destacar que nem todas as fontes de cálcio são iguais. Os hortícolas são de forma geral ricos 6 janeiro 2020 www.revdesportiva.pt em ácido fítico e oxálico, substâncias que diminuem consideravelmente a absorção intestinal de cálcio e, por outro lado, o leite e produtos lácteos são uma forma bastante favorável de adequar a ingestão de cálcio. 1 Assim, o leite e a sua relação com a preven- ção da osteoporose sempre foram elementos amplamente estudados e, segundo resultados de biomarca- dores, é descrito um efeito protetor do consumo de leite na densidade mineral óssea e estudos epidemio- lógicos mostram que o consumo de leite poderá diminuir o turnover ósseo e promover a maior densidade mineral óssea. Por oposição, no que diz respeito ao risco de fratura são necessários mais estudos, com boa quantificação da ingestão alimentar e melhor ajuste para possíveis viés, porque são vários os fatores que podem estar na origem da fratura e trabalhos com metodologias de análise deste tema são escassos. 2 Concomitantemente, uma revisão de estudos controlados e randomizados, que incluiu 13 trabalhos, concluiu que a adequação do consumo de leite e de produtos lácteos se associa a aumentos de densidade mineral óssea na infância. De facto, a janela de oportunidade para a correta deposição de matriz óssea situa-se na infância e na adolescência, o que demarca a necessidade de uma estra- tégia preventiva da osteoporose logo no início da vida. 3 Adicionalmente, um outro trabalho mostrou que a ingestão total de produtos lácteos tem um efeito protetor no risco de osteoporose (0.63; 95% CI: 0.55-0.73) e, numa análise de dose resposta, o aumento de consumo de leite de 0 para 250mL aumentava o efeito pro- tetor do mesmo (P nonlinearty=0.005). 4 Muitos estudos apontam as mulheres em pós-menopausa como um grupo de risco para a osteoporose e mesmo neste grupo o consumo de leite e de produtos lácteos associa-se de forma positiva à densidade mineral óssea. 5 A vitamina D, pelo seu papel na absorção de cálcio, destaca-se como um dos nutrimentos importantes na prevenção da osteoporose, no entanto, importa referir que apenas uma pequena parte da vitamina D do organismo é obtida pela alimen- tação, uma grande parte dela resulta de transformações bioquímicas do fígado e rins em resposta a uma correta exposição solar. 6 O sódio, nutrimento que se associa a diversos problemas de saúde, mas que é geralmente consumido de forma excessiva pelas popula- ções, pode ter um efeito negativo no desenvolvimento de osteoporose, pois em quantidades excessivas em circulação pode conduzir a aumen- tos da excreção urinária de cálcio. Um estudo de 2018 contou com a participação de 39.065 indivíduos, mostrou que a maior ingestão de sódio se associou a maior risco de osteoporose (OR = 1.20; 95% [CI], 1.02-1.41; p = 0.026). O efeito de risco numa análise de subgrupos foi maior para mulheres em fase de pré menopausa e indivíduos com mais de 50 anos (OR = 1.31; 95% CI, 1.01- 1.69; p = 0.036) e (OR = 1.15; 95% CI, 1.04-1.28; p = 0.005), respetivamente. A proteína também pode ter um papel interessante na prevenção da osteoporose, no entanto, o seu efeito fisiológico poderá ter diferen- tes impactos consoante a idade dos indivíduos e a qualidade da fonte proteica. Apesar disso, uma meta análise com estudos em indivíduos idosos mostrou que a ingestão proteica adequada pode diminuir o risco de fratura e ser benéfico na terapêutica da osteoporose. 7 Apesar da importância do efeito fisiológico de cada nutrimento isolado, o papel da nutrição na prevenção da osteoporose deverá assentar numa alimentação equili- brada, diversificada, com adequação da ingestão de cálcio, por exemplo, com o consumo de produtos lác- teos que são fortes facilitadores da adequação dos níveis necessários de vários nutrimentos, por outro lado, deve assegurar-se a correta