Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2020 | Page 6

Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(1):4-5. https://doi.org/10.23911/FMUP_2020_1 Exercise Is Medicine in Oncology: Engaging Clinicians to Help Patients Move Through Cancer 1 Dra. Magda Durães Médica Interna de Formação Específica em Medicina Geral Familiar na USF AmareSaúde, ACeS Cávado II Resumo e comentário Múltiplas organizações a nível mun- dial têm recomendações publicadas sobre a prática de exercício físico em pacientes com e sobreviventes de cancro. Entre elas, o American College of Sports Medicine (ACSM) promoveu uma mesa redonda em março de 2018, em conjunto com 17 organizações multidisciplinares, da qual resultou a publicação de três artigos. O primeiro artigo evidencia que o exercício está associado a menor risco de desenvolver pelo menos sete tipos de cancro (cólon, mama, endométrio, rim, bexiga, esófago e estômago) e a aumento da sobrevida após o diagnóstico de cancro da mama, cólon e próstata. O segundo artigo revela que a prescrição de doses específicas de exercício (atividade aeróbia 3x/ semana durante 30 minutos ou atividade de resistência 2x/semana – um exercício por cada grupo mus- cular com 8-15 repetições por ciclo, com 2 ciclos por sessão, progredindo em pequenos incrementos), melhora outras variáveis relacionadas com o cancro, como a fadiga, qualidade de vida, funcionalidade, ansiedade e sintomas depressivos. Em relação ao cancro da mama, o exercício físico mostrou reduzir o risco de exacer- bação de linfedema do(s) membro(s) superior(es). Apesar das recomendações exis- tentes, 30-45% dos pacientes com e sobreviventes de cancro não seguem as diretrizes, ainda que 78,9% dos oncologistas concordem com a reco- mendação da atividade física aos 4 janeiro 2020 www.revdesportiva.pt seus pacientes e mais de 80% dos pacientes estejam interessados em receber recomendações por parte dos profissionais de saúde que os acompanham. Portanto, interessa perceber porque é que isto acontece e de que forma pode ser alterado. As razões para a falta de exer- cício físico regular em pacientes com e sobreviventes de cancro são multifatoriais. Diversos estudos documentaram falta de recomen- dação por parte dos oncologistas, quer devido ao desconhecimento do potencial valor do exercício nos pacientes com cancro, incerteza em relação à segurança ou adequação do exercício a um paciente em parti- cular, desconhecimento da existên- cia de programas de exercício nas populações com cancro, necessidade de formação sobre como se processa a referenciação e a noção de que a referenciação para programas de exercício vai para além do seu papel enquanto oncologistas. O terceiro artigo, aquele que hoje revemos, propõe precisamente soluções para ultrapassar as barreiras à referenciação pelos oncologista para a prática de exercício dos pacientes com e sobreviventes de cancro. O artigo foca determinantemente o papel do oncologista. Apesar disso, e repor- tando-nos à realidade portuguesa, temos forçosamente de fazer algumas adaptações. O paciente oncológico é seguido a nível hospi- talar por uma equipa multidiscipli- nar e, a nível dos Cuidados de Saúde Primários, pelo Médico de Família, pelo que todos estes elementos devem estar atentos para a necessi- dade da prática de exercício no contexto oncológico. Doravante, em vez de reduzir as recomendações aos oncologistas, estas serão dadas genericamente aos médicos, que- rendo com isto incluir todos os médicos que seguem pacientes oncológicos e que nunca devem esquecer que a abordagem da sua patologia deve ser multifacetada. O que fazer? Avaliar, aconselhar e referenciar. A iniciativa Exercise Is Medicine (EIM), proposta pela ACSM, preconiza a avaliação da atividade física como um sinal vital e a inclusão do seu aconselhamento no âmbito do plano terapêutico para a prevenção, o tratamento e o controlo de doenças. Em primeiro lugar, é necessário que o médico avalie a prática de exercício físico. Os pacientes têm maior proba- bilidade de realizar exercício se este assunto for discutido com o médico uma vez que, ao fazê-lo, este passa a mensagem de que o exercício é impor- tante durante e após o tratamento dos seus pacientes. Pelo contrário, se esta questão não for abordada, os pacien- tes interpretam este silêncio como uma validação para manter a inati- vidade física. De seguida, o médico deve aconselhar a prática de exercício físico, referenciando os pacientes para programas de exercício adequados. Mesmo nos pacientes fisicamente ativos por iniciativa própria, a refe- renciação é importante uma vez que o exercício supervisionado conduz a melhores resultados. Posteriormente, é importante que estes três passos sejam repetidos nas consultas subsequentes para reforçar a necessidade da prática de exercício e avaliar o aparecimento de efeitos laterais ou comorbilidades que pos- sam afetar o exercício praticado. Como fazer? No que se refere à avaliação da prá- tica de exercício, devem ser feitas duas questões (uma sobre exercício aeróbio e outra sobre exercício de resistência) que permitem com- parar os níveis de atividade física praticados com aqueles que são recomendados: 1. Na semana passada, quantos dias praticou exercício durante pelo menos 30 minutos, em que a respiração e o batimento cardíaco foram mais rápidos que o normal? 2. Na semana passada, quantos dias praticou exercício para aumentar a força muscular (como levanta- mento de pesos)? O médico faz, depois, uma terceira questão a si próprio: “Será seguro este paciente praticar exercício