Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2018 | Page 4

Rev . Medicina Desportiva informa , 2018 , 9 ( 1 ), p . 2

Entrevista

Tarantini Jogador de Futebol do Rio Ave FC
O Tarantini é jogador de futebol profissional , tem uma licenciatura , é mestre e escreve livros . Afinal quem é o Tarantini ?
Até ao dia do adeus aos relvados , o Tarantini vai ser sempre em primeiro lugar jogador profissional de futebol . Tudo o resto que faço são projetos para a vida . Quando soube que ia fazer disto vida , não sabia até onde conseguiria ir ou até mesmo quanto tempo ia durar , mas sabia que ia ter um fim . Constantemente questionava-me o que quero fazer , o que quero ser , para continuar a ter qualidade de vida , e , enquanto profissional de futebol , entendo que a melhor forma de estar preparado para a transição após o final de carreira é através da capacidade de ter investimentos ativos e da formação . É desta forma que surgiu a preocupação em conseguir fazer uma carreira dupla : conciliar o desporto de elite com a formação académica . Acredito que o jogador de futebol deverá adquirir ferramentas durante a sua carreira para uma melhor interação no mercado de trabalho , na vida pós-futebol . Nós não vivemos na vida real . Segundo dados recentes , em Portugal os jogadores profissionais de futebol pertencem ao top 5 dos que têm maiores rendimentos . Temos rendimentos ao nível de médicos , gestores de grandes empresas , controladores tráfico aéreos , uma profissão que , quando gerados grandes recursos financeiros , são concentrados num curto espaço de tempo . E depois ? Temos mais 30 anos de vida pela frente , o que é que vamos fazer ? E mesmo com muito dinheiro , será que se não for bem gerido , vai durar para sempre ? É aqui que surge o
livro , a vida do futebolista que não é só cor-de-rosa .
Tem associado uma vida futebolística a alto nível com uma vida académica de sucesso . Afinal é possível ?
Não tenho qualquer dúvida que é possível . É fácil ? Claro que não , mas querer muito e perceber a importância disso é meio caminho para conseguir conciliar carreiras . É necessário uma boa gestão do nosso tempo , porque não é pela falta dele que não conseguimos conciliar carreiras . Fazemos com o tempo aquilo que queremos . Nós somos donos do nosso tempo .
Publicou recentemente a sua primeira obra . De que se trata e qual o objetivo ?
Esta obra surge no seguimento de uma causa que iniciei há cerca de um ano . Em Setembro de 2016 iniciei “ a minha causa ” simplesmente do zero . Naquela altura questionava- -me como haveria de começar isto ? Como conseguiria chegar mensagem aos jovens jogadores , amadores e profissionais , pais , treinadores , dirigentes , agentes , a todos aqueles que vivem e fazem parte da vida de quem persegue o sonho . O desafio que tinha pela frente foi alicerçado inicialmente em três grandes pilares : palestras , investigação e documentários . Em novembro outro pilar foi acrescentado , A minha causa em livro . Foi mais um passo foi dado para deixar a minha marca no Desporto . Tentei através do meu percurso deixar pistas que considero essenciais , com o objetivo de despertar uma geração de pessoas para algumas questões relacionadas com a gestão das carreiras desportivas , tais como , a transição para o fim de carreira , a ilusão em torno de uma carreira profissional , as escolhas , os comportamentos dos desportistas .
Sabemos que está envolvido numa acção social de apoio ao futebolista após o término da carreira . Como funciona ?
Este projeto pretende sensibilizar e alertar os desportistas a pensarem nesta transição como um processo e não como um evento único . Neste sentido é possível interpretá-lo com normalidade e não como um momento negativo e traumático . É necessário que entender que não podemos esperar para o fim para ver no que vai dar , até porque nunca saberemos quando esse dia chegará e o que está em causa é demasiado importante para uma abordagem imprudente . É por isso que entendo que construir uma vida faz parte do sonho . Não entendo viver duas vidas completamente separadas . É preciso que os jogadores saiam rapidamente da bolha que é o futebol .
O apoio médico ao futebolista tem evoluído bastante . O que tem melhorado ?
Na minha opinião as melhorias do apoio medico deve-se essencialmente à preocupação de quem toma decisões em envolver outros profissionais nas decisões , com objetivo claros em resolver melhor os problemas e em tempo útil . Também se verifica em Portugal que os clubes com menor dimensão começam a perceber que é necessário investir recursos para os diferentes departamentos que envolvem o futebolistas .
O que vai fazer a seguir e o que ainda lhe falta fazer ?
Não sei se a jogar ou em outra função , mas tenho um objetivo claro em conseguir chegar ao topo do futebol em Portugal . Enquanto isso estou a realizar o doutoramento na área das Ciências do Desporto , mostrando mais uma vez que um jogador de futebol tem tempo e cada um usa-o da forma que bem entende . Tem sido bastante duro , mas sei que “ no fim não é apenas mais uma etapa cumprida . É um modo de vida . Crescemos com aquilo que aquele percurso nos deu . Reagimos perante variadíssimos 
 estados emocionais , modificando-nos , estabelecendo em nós próprios novos limites ” ( A minha causa , Tarantini , 2017 ).
2 janeiro 2018 www . revdesportiva . pt