Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2013 | Page 30

Medicina prática

Rev . Medicina Desportiva informa , 2013 , 4 ( 1 ), pp . 28 – 29

Infiltrações e punções em traumatologia do desporto Patologia dos tendões peroneais

Dr . Raul Maia e Silva Fisiatria , Medicina Desportiva – Matosinhos
RESUMO ABSTRACT
O sofrimento dos tendões peroneais é mais frequente do que habitualmente se imagina . À parte as situações que merecem tratamento cirúrgico outras há que têm que ser submetidas a programas de reabilitação como acontece noutras tendinopatias . Em alguns casos a dificuldade de dominar os fenómenos de tenosinovite justifica , para alguns autores , uma infiltração de corticóides . Outros advogam que a infiltração tem riscos , pelo que deve ser utilizada com cuidado e de preferência sob controlo ecográfico .
Injuries to the peroneal tendons are common but not always clinically significant . They are misdiagnosed as a lateral ankle sprain most of the time . In cases of peroneal tendinosis in which the tendon is degenerated but not ruptured , acute care may include 2-6 weeks of cast immobilization , particularly if the symptoms are recurrent . When resolution of symptoms is difficult we can try an injection with corticosteroid and then avoiding any overuse for about 1-2 weeks .
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Infiltrações ; Tendinopatias dos peroneais . Joint and Soft Tissue Injections ; Peroneal tendons injuries .
Tem-se reconhecido ultimamente que as lesões dos tendões peroneais não são tão raras como se pensava , mas continua a haver muito pouca literatura sobre esta patologia . Muitas vezes ela foi erradamente diagnosticada como entorse externa do tornozelo . Hoje admite-se que as lesões dos tendões peroneais devem ser sempre consideradas no diagnóstico diferencial de dor na face externa do tornozelo 1 .
Anatomia . Relembremos que os dois músculos peroneais , longo e curto , localizados no compartimento lateral da perna , dão origem a dois tendões que vão ter um trajeto vertical retromaleolar , aplicados contra o osso pelo retináculo peroneal superior ( o peroneal longo mais posterior e lateral ) e contidos no interior de uma bainha sinovial comum . Mais abaixo , após passarem na tróclea peroneal da face lateral do calcâneo , afastam-se um do outro , entram em bainhas sinoviais separadas e assumem um trajecto horizontal . O peroneal curto dirige-se para diante e para cima para se inserir na base do quinto metatarsiano , contendo raramente ( 0,1 % da população ) no seu interior um osso sesamoide ( os vesalianum ). O peroneal longo dirige-se para baixo ao longo da goteira da face lateral do cuboide e daí cruza a face plantar do pé em direção à base do primeiro metatarso e ao cuneiforme medial . Na sua passagem pela face externa do cuboide este tendão pode conter ( em 20 % dos casos ) um sesamoide ( os peroneum ). Os dois tendões têm como função contribuir para a flexão plantar e para a eversão . Eles são muito importantes na estabilidade externa da tíbio-társica e são os primeiros a contrair aquando de testes de stress em inversão 2 .
As tendinopatias podem ocorrer num ou nos dois tendões : as do peroneal curto são mais frequentes na região retromaleolar enquanto as do peroneal longo ocorrem na sua passagem pela face lateral do cuboide . As lesões classificam-se em agudas e crónicas e a sua repercussão funcional tanto pode ser muito grave como serem totalmente assintomáticas ( como acontece em algumas roturas completas ). As lesões agudas são habitualmente causadas por acidente único , em geral uma entorse do tornozelo em inversão ou , mais raramente , por violenta contração dos peroneais com o pé em dorsiflexão . Como consequência podem-se produzir lesões do retináculo peroneal , roturas tendinosas , pequenas ou totais , ou luxações dos tendões . As lesões crónicas estão em geral associadas a instabilidades ou artrites da tíbio-társica ( artrite reumatoide ), a excesso de pronação ou varus do retro pé , má preparação física geral , em particular encurtamentos músculo-tendinosos ( tricípite sural ) ou a alterações degenerativas que acompanham o envelhecimento dos tendões . Nelas encontramos com frequência roturas longitudinais dos tendões ou subluxações ( nomeadamente do curto peroneal ).
No desporto os tendões peroneais são sobretudo solicitados nas modalidades com corrida e deslocações laterais . A patologia dos tendões peroneais aparece com frequência na dança , ballet , futebol , basquetebol , entre outros . Na corrida a pé pode aparecer quando ela é feita em pisos muito irregulares ou inclinados , provocando eversões excessivas ,
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