Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2013 | Page 31

ou em pisos muito duros. Serão também fatores predisponentes o aumento rápido da frequência ou da intensidade do treino, nomeadamente da distância em cada treino. Pontualmente em modalidades como o esqui ou a patinagem podem estar relacionados com más adaptações ao calçado desportivo. O diagnóstico é feito na sequência de interrogatório e exames minuciosos. Após história sugestiva de atingimento tendinoso, da constatação de dor com características mecânicas no compartimento lateral do tornozelo, com eventual irradiação para o bordo externo do terço médio do pé, observa-se a existência de tumefação retro e/ou sub-maleolar, palpação dolorosa dos tendões, agravamento da dor na inversão passiva e na eversão e dorsiflexão resistidas. A confirmação do diagnóstico baseia-se nos achados imagiológicos obtidos por Rx ou TAC (artrites, arrancamentos do retináculo ou da base do quinto metatarsiano, fratura do os peroneum), ecografia (tenosinovites, roturas, instabilidade dinâmica) ou RMN (sinovites, roturas, fissurações, etc.). No caso de grandes roturas, fissurações, luxação ou subluxação tendinosas o tratamento é cirúrgico. Nas restantes situações deve-se tentar o tratamento conservador. Ele inicia-se combatendo a dor e a inflamação com os meios físicos habituais e, em casos recorrentes, com uma imobilização em descarga ou uma ortótese de estabilização do retro-pé durante 2 a 6 semanas, à qual se segue reabilitação semelhante à que se programa para outras tendinopatias3: diminuindo a tensão sobre os tendões, proibindo marcha com pés descalços e, eventualmente, usando cunhas elevadoras do calcanhar, só autorizando atividades que não despertem dor (como a natação e o ciclismo), autorizando a corrida, em linha reta, quando assintomática, iniciando trabalho excêntrico dos músculos envolvidos quando esse trabalho for indolor, fazendo estiramentos músculo-tendinosos e não esquecendo a correção de eventuais alterações biomecânicas do pé quando se suspeite que elas contribuíram para o aparecimento da patologia tendinosa. Neste contexto qual é o papel e a indicação das infiltrações? Na literatura encontramos referência a infiltrações com lidocaína, com fins diagnósticos, em casos de mais difícil interpretação, e com corticoides para tentar encurtar o período de incapacidade provocado pelo prolongar dos fenómenos de tenosinovite, quando tal está a ser resistente aos tratamentos habituais e a atrasar o recurso às medidas cinesiológicas atrás descritas. Tecnicamente a infiltração efetua-se com o paciente em decúbito, membro inferior em rotação interna para melhor expor a região dos peroneais. Pedindo ao paciente uma eversão e dorsiflexão resistidas identifica-se e marca-se o local em que os dois tendões se afastam um do outro. Utilizando uma agulha fina (25G) picamos a pele na vertical, mas logo nos dirigimos na horizontal em direção ao maléolo, tentando penetrar na bainha sinovial comum. Não deve haver qualquer resistência à entrada do produto podendo mesmo observar-se a progressiva formação de uma tumefação local à medida que o produto penetra na bainha. Utiliza-se habitualmente 1 ml (40mg) de acetato de metilprednisolona com lidocaína. Deve-se observar um período de repouso de atividades físicas durante cerca de 1–2 semanas, retomando-se depois progressivamente o programa de reabilitação. O recurso às infiltrações com corticóides na patologia tendinosa dos peroneais não é aceite por todos os autores, nomeadamente por os tendões serem muito superficiais e passarem perto do nervo sural o que potencia o aparecimento de atrofia do tecido celular subcutâneo ou de um nevroma sural que irá dificultar posteriormente o uso de calçado. Para minimizar estas e outras potenciais complicações (injeção intratendinosa) é aconselhável o controle ecográfico da injecção4. A equipa médica, e muito especialmente o paciente, têm que estar avisados que nesta patologia as melhorias sintomáticas e funcionais significativas podem demorar meses a ser alcançadas pelo que cabem aqui bem as conclusões de um artigo publicado recentemente: “teaching patients to control the symptoms may be more beneficial than leading them to believe that tendinopathy is fully curable5. Bibliografia 1. Grasset W, Mercier N, Chaussard C, Carpentier E, Aldridge S, Saragaglia D. The Surgical Treatment of Peroneal Tendinopathy (Excluding Subluxations): A Series of 17 Patients. J Foot Ankle Surg. 2012;51(1):13-19. http://dx.doi. org/10.1053/j.jfas.2011.10.010 2. Ritter S, Moore M. The relationship between lateral ankle sprain and ankle tendinitis in ballet dancers. J Dance Med Sci. 2008;12(1):23-31. 3. Barr KP, Harrast MA. Evidence-Based Treatment of Foot and Ankle Injuries in Runners. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2005;16:779–799. 4. Muir JJ, Curtiss HM, Hollman J, Smith J, Finnoff JT. The accuracy of ultrasound-guided and palpation-guided peroneal tendon sheath injections. Am J Phys Med Rehabil. 2011;90(7):564-71. 5. Maffulli N, Longo UG, Loppini M, Denaro V. Current treatment options for Tendinopathy. Expert Opinion on Pharmacotherapy. 2010;11(13):2177-86 6. (http://dx.doi.org/10.1517/14656566.2010.4 95715). Revista de Medicina Desportiva informa Janeiro 2013 · 29