E tudo começou com um
português de nome José Pinto
Martins que abandona a seca
de Aracati no Ceará para
despencar ao sul e se
estabelecer às margens de um
arroio, na então freguesia de
São Francisco de Paula,
próximo à Rio Grande. Era
1779 e ele veio para a região
da futura Pelotas, para seguir
na lide de salgar a carne que
vinha do abate das imensas
manadas de gado livre, que se
reproduziam nos campos sem
fim do sul. Mas ele não foi o
único, e a atividade cresceu
atraindo mais estancieiros que
começaram a erguer
construções e estruturas, para
dar conta da secagem e salga
em um ritmo muito intenso.
Entre elas, a charqueada São
João erguida em 1810, e que
guarda ainda hoje esta rica
história contada no interior da
casa, mas também nas alvas
paredes e pesadas portas de
madeira escura. Andar nesta
propriedade, ou mesmo passear
de barco no arroio para ver as
outras remanescentes, ajuda a
entender a extensão desta
importante atividade do século
XIX. Um verdadeiro distrito
industrial do seu tempo, que
contava com a força dos negros
braços de escravos vindos da
longínqua África. Extensos varais
com cabos de madeira formavam
fileiras paralelas repletas de tiras
de carne de gado, para que
secassem ao sol e ao vento, e
perdessem seu sangue.