REVISTA CEP EM CENA REVISTA TEATRO CEP N1 | Page 19
Mais do que uma carta de suicídio este texto, Psicose 4.48, toca em questões importantes sobre a textualidade da autora e da própria dramaturgia britânica. Temas como a amizade, relações familiares, sentido da vida, religiosidade e fé estão no discurso de Kane, porém estes não estão em primeiro plano, em forma de discussão aprofundada, mas em caráter de desabafo a serem divididos com o público enquanto ela fala de si, no rememorar de fatos vividos e no pensar de seu suicídio. O texto a ser analisado aqui é o ultimo escrito por Sarah Kane, que morre com apenas 28 anos, em 1999, em um hospital para tratamento psiquiatrico. Psicose 4.48 trás muitos trechos em que a autora fala de si memsa, de sua situação clínica. Sarah sofria de intesas dores sem obter um diagnostico preciso, e por consequência, sem um tratamento eficaz. Durante um trecho da peça ela relata:
Sintomas: Sem comer, sem dormir, sem falar, sem desejo sexual, em desespero, quer morrer. Diagnóstico: Dor patológica. Sertralina, 50 mg.( Kane, Pg. 14)
Aqui Sarah esta narrando sua própria condição. Para compreender como a autora chega a uma dramaturgia que não se coloca como a“ dona do espetáculo”, mas como um propulsor para a montagem, deixando espaço para que o ator, o encenador e o leitor / publico possam criar juntos um discurso para a peça, precisa-se olhar para a transformação da cena na segunda metade do sec. XX e como consequência a transformação
Da dramaturgia Contemporânea
Quando olhamos para o passado podemos observar que o conceito de dramaturgia sofreu grandes alterações durante o sec. XX. Pois até o começo do século passado a dramaturgia era vista como a escrita dramática, a escrita em diálogos, ou seja, literatura do gênero drama, propícia para o teatro. Ela seguia as recomendações aristotélicas de unidade de ação, tempo e espaço. Aqui cabe destacar o drama a partir dos estudos de Peter Szondi.
Para o autor“ O drama é absoluto. Para ser relação pura, isto é, dramática, ele deve ser desligado de tudo o que lhe é externo. Ele não conhece nada além de si.”( SZONDI, 2001, p. 30) O drama não faz uso de outras formas de comunicação com o público que não seja os diálogos entre os personagens e a ação em si. Ou seja, existe uma quarta parede dentro do palco que separa os espectadores da ação teatral. O papel de destaque das montagens são as falas, o texto, assim todos os signos teatrais devem contribuir para que, linearmente, por meio da intersubjetividade, seja instaurado o conflito.
Ao discorrer sobre o drama, é importante frisar que não se trata somente do texto dramático, mas das relações que se estabelecem entre as personagens( a intersubjetividade), pois as falas / textos são decisões do autor para que o enredo se cumpra. Sendo assim, nas montagens dramáticas o diretor não altera“ os elementos estruturantes [...] ação, os personagens ou dramatis personae e a história.”( LEHMANN, 2007. p. 48) Mas trabalha a partir das referências dadas. Para Szondi( 2001, p. 30).“ o dramaturgo está ausente [...] Ele não fala; ele institui a conversação”. Contraponto importante com o teatro contemporâneo, onde o escritor de textos teatrais aponta para onde o di-
ARTIGO
POR GEDNILSON DE FREITAS LIMA
PSICOSE 4.48: A transformação do Conceito de Dramaturgia
Mais do que uma carta de suicídio este texto, Psicose 4.48, toca em questões importantes sobre a textualidade da autora e da própria dramaturgia britânica. Temas como a amizade, relações familiares, sentido da vida, religiosidade e fé estão no discurso de Kane, porém estes não estão em primeiro plano, em forma de discussão aprofundada, mas em caráter de desabafo a serem divididos com o público enquanto ela fala de si, no rememorar de fatos vividos e no pensar de seu suicídio. O texto a ser analisado aqui é o ultimo escrito por Sarah Kane, que morre com apenas 28 anos, em 1999, em um hospital para tratamento psiquiatrico. Psicose 4.48 trás muitos trechos em que a autora fala de si memsa, de sua situação clínica. Sarah sofria de intesas dores sem obter um diagnostico preciso, e por consequência, sem um tratamento eficaz. Durante um trecho da peça ela relata:
Sintomas: Sem comer, sem dormir, sem falar, sem desejo sexual, em desespero, quer morrer. Diagnóstico: Dor patológica. Sertralina, 50 mg.( Kane, Pg. 14)
Aqui Sarah esta narrando sua própria condição. Para compreender como a autora chega a uma dramaturgia que não se coloca como a“ dona do espetáculo”, mas como um propulsor para a montagem, deixando espaço para que o ator, o encenador e o leitor / publico possam criar juntos um discurso para a peça, precisa-se olhar para a transformação da cena na segunda metade do sec. XX e como consequência a transformação
Da dramaturgia Contemporânea
Quando olhamos para o passado podemos observar que o conceito de dramaturgia sofreu grandes alterações durante o sec. XX. Pois até o começo do século passado a dramaturgia era vista como a escrita dramática, a escrita em diálogos, ou seja, literatura do gênero drama, propícia para o teatro. Ela seguia as recomendações aristotélicas de unidade de ação, tempo e espaço. Aqui cabe destacar o drama a partir dos estudos de Peter Szondi.
Para o autor“ O drama é absoluto. Para ser relação pura, isto é, dramática, ele deve ser desligado de tudo o que lhe é externo. Ele não conhece nada além de si.”( SZONDI, 2001, p. 30) O drama não faz uso de outras formas de comunicação com o público que não seja os diálogos entre os personagens e a ação em si. Ou seja, existe uma quarta parede dentro do palco que separa os espectadores da ação teatral. O papel de destaque das montagens são as falas, o texto, assim todos os signos teatrais devem contribuir para que, linearmente, por meio da intersubjetividade, seja instaurado o conflito.
Ao discorrer sobre o drama, é importante frisar que não se trata somente do texto dramático, mas das relações que se estabelecem entre as personagens( a intersubjetividade), pois as falas / textos são decisões do autor para que o enredo se cumpra. Sendo assim, nas montagens dramáticas o diretor não altera“ os elementos estruturantes [...] ação, os personagens ou dramatis personae e a história.”( LEHMANN, 2007. p. 48) Mas trabalha a partir das referências dadas. Para Szondi( 2001, p. 30).“ o dramaturgo está ausente [...] Ele não fala; ele institui a conversação”. Contraponto importante com o teatro contemporâneo, onde o escritor de textos teatrais aponta para onde o di-