ruíram, se dissolveram. Não valem mais”.
Nesses momentos, negócios menores, mais
jovens e em etapas iniciais, tem o vigor e a
coragem do fazer, do se arriscar, ir em frente.
Estão menos perdidos até porque seu raio de
alcance e visão estão mais próximos. E hoje
quando digo jovem, não falo de idade, mas de
cabeça. Acabo de fazer 56, e me sinto ainda com
a cabeça de 20 ou 30. Trago a mesma
curiosidade, desejo, paixão, vigor. Porém meu
entorno é outro. É novo.
Nosso calendário ainda está em construção, em
formação, assim como nosso país. Neste caminho
muitas coisas podem acontecer, e de fato
acontecem. Vimos grandes crescimentos, assim
como vimos tristes desaparecimentos.
Nossa estrutura industrial, tributária, fiscal,
alfandegária, continua sem rumo e sem voz na
falida gestão e direção política do país. Nunca se
conseguiu de fato uma defesa representativa, uma
voz forte e eficaz para todo setor. Continuamos
sem um projeto de Estado e de longo prazo, que
possa dar sustentabilidade a esta poderosa
indústria em nosso país. Tudo que vemos, em
muito, é responsabilidade de sucessivos governos
ineficientes, autocratas, arrogantes, voltados para
seus planos particulares, obtusos e muitas vezes
obscuros.
Pagamos como sociedade por concedermos a
todos eles, um cheque em branco, do qual nunca
vimos retorno.
Posto isto, o calendário dessa temporada retrata a
realidade. Vigor, paixão e discurso em nomes e
marcas que conseguem transferir para seus
negócios o melhor de seus sonhos. A força desta
temporada estará na resistência e na crença das
escolhas.
A homenagem a Conrado sempre esteve na
minha cabeça. A questão seria em que momento
trazê-la para a cena. Conheci Conrado em
meados dos anos 80, tocando piano e cantando
no Club Off. Depois vim a saber que ele
trabalhava com moda no Bom Retiro numa fábrica
de roupas infantis.
Nos reencontramos na moda durante um desfile
que eu dirigia para a Tecelagem Brasil ( um dos
tristes desaparecimentos ), porém como
Cooperativa de Moda. Um coletivo. Vários jovens
que de forma absolutamente vanguarda já intuíam
tudo o que hoje se faz, se fala e se busca. A partir
dali ficamos muito próximos e eu abri para ele sua
empresa de Pret a Porter, produzi, dirigi, e
levantei apoios e patrocínios para todos os seus
quatro desfiles.
Conrado era compulsivo pela criação. Desenhava
sem parar. Viveu seu melhor período na moda,
sabendo solitariamente que iria morrer. Talvez por
isso, só pensava na criação, sem consequências
e sem concessões. Me dei conta que esta era a
hora. É disto que precisamos.
São vinte e cinco anos de sua morte, e nunca
precisamos tanto desta energia, desta coragem,
desta força de Alma. Desta certeza e convicção.
Criar genuinamente é o remédio para o amanhã.
Cada temporada em si será sempre diferente. E
assim será por um período ainda incerto. Até que
alcancemos a maturidade necessária às grandes
sociedades.
As coincidências estão aí, no ar. A criatividade
será sempre a saída e o futuro. O próximo passo.
O pé no escuro e no incerto. A criatividade é
sempre a bússola para o novo tempo.
MAIO 2018 - REVISTA AMOORENO - 7