Revista Amooreno Edição 04 - MAI/2018 | Page 7

ruíram, se dissolveram. Não valem mais”. Nesses momentos, negócios menores, mais jovens e em etapas iniciais, tem o vigor e a coragem do fazer, do se arriscar, ir em frente. Estão menos perdidos até porque seu raio de alcance e visão estão mais próximos. E hoje quando digo jovem, não falo de idade, mas de cabeça. Acabo de fazer 56, e me sinto ainda com a cabeça de 20 ou 30. Trago a mesma curiosidade, desejo, paixão, vigor. Porém meu entorno é outro. É novo. Nosso calendário ainda está em construção, em formação, assim como nosso país. Neste caminho muitas coisas podem acontecer, e de fato acontecem. Vimos grandes crescimentos, assim como vimos tristes desaparecimentos. Nossa estrutura industrial, tributária, fiscal, alfandegária, continua sem rumo e sem voz na falida gestão e direção política do país. Nunca se conseguiu de fato uma defesa representativa, uma voz forte e eficaz para todo setor. Continuamos sem um projeto de Estado e de longo prazo, que possa dar sustentabilidade a esta poderosa indústria em nosso país. Tudo que vemos, em muito, é responsabilidade de sucessivos governos ineficientes, autocratas, arrogantes, voltados para seus planos particulares, obtusos e muitas vezes obscuros. Pagamos como sociedade por concedermos a todos eles, um cheque em branco, do qual nunca vimos retorno. Posto isto, o calendário dessa temporada retrata a realidade. Vigor, paixão e discurso em nomes e marcas que conseguem transferir para seus negócios o melhor de seus sonhos. A força desta temporada estará na resistência e na crença das escolhas. A homenagem a Conrado sempre esteve na minha cabeça. A questão seria em que momento trazê-la para a cena. Conheci Conrado em meados dos anos 80, tocando piano e cantando no Club Off. Depois vim a saber que ele trabalhava com moda no Bom Retiro numa fábrica de roupas infantis. Nos reencontramos na moda durante um desfile que eu dirigia para a Tecelagem Brasil ( um dos tristes desaparecimentos ), porém como Cooperativa de Moda. Um coletivo. Vários jovens que de forma absolutamente vanguarda já intuíam tudo o que hoje se faz, se fala e se busca. A partir dali ficamos muito próximos e eu abri para ele sua empresa de Pret a Porter, produzi, dirigi, e levantei apoios e patrocínios para todos os seus quatro desfiles. Conrado era compulsivo pela criação. Desenhava sem parar. Viveu seu melhor período na moda, sabendo solitariamente que iria morrer. Talvez por isso, só pensava na criação, sem consequências e sem concessões. Me dei conta que esta era a hora. É disto que precisamos. São vinte e cinco anos de sua morte, e nunca precisamos tanto desta energia, desta coragem, desta força de Alma. Desta certeza e convicção. Criar genuinamente é o remédio para o amanhã. Cada temporada em si será sempre diferente. E assim será por um período ainda incerto. Até que alcancemos a maturidade necessária às grandes sociedades. As coincidências estão aí, no ar. A criatividade será sempre a saída e o futuro. O próximo passo. O pé no escuro e no incerto. A criatividade é sempre a bússola para o novo tempo. MAIO 2018 - REVISTA AMOORENO - 7