Revista Amooreno EDIÇÃO 15 - ABR19 | Page 23

Atualmente, o que ocorre são as pequenas marcas ressignificando materiais descartados. No entanto, este movimento pode – e deve – partir muito antes, ainda no desenvolvimento de produtos. Pensar nos seus múltiplos ciclos envolvendo materiais, design e mão de obra exige uma mudança de mentalidade das indústrias. A ideia principal é criar um modelo capaz de proteger nossos recursos naturais virgens e explorar de forma inteligente e ética os recursos já existentes. Isso envolve uma escolha consciente dos materiais têxteis (como fibras recicladas ou orgânicas, por exemplo) ou ainda um modelo de negócio que incentive o retorno das peças, trocas etc. Há inúmeras formas de pensarmos em minimizar os impactos da produção em geral. Questões ambientais e sociais começam a ser questionadas assim como uma maior transparência envolvendo toda a cadeia de produção. De onde vem a matéria-prima? Que tecido é utilizado? Há problemas ambientais envolvidos? O que a marca faz para minimizá-los? Há algum retorno positivo para o ambiente e para a comunidade? Hoje, acredito que pensar nestes temas é a garantia de construir algo sólido, ético e que caminhe lado a lado com as mudanças que estão por vir. Apesar da mudança para uma experiência e economia de serviços, os consumidores continuam comprando bens materiais a taxas sem precedentes. Na indústria da moda, apesar de todas as alternativas para a implementação de um sistema slow, estima-se um aumento de 63% na produção de vestuário até 2030, colocando pressão severa sobre os recursos e modelos de negócios existentes. Diversas empresas de moda estão adotando um modelo circular de produção para manterem um curso de crescimento. Agindo de forma diferente – e se afastando de modelos de fabricação linear para circulares as empresas podem buscar lucro e crescimento ao mesmo tempo, criando um novo valor para o mundo da economia na moda. Programas de sustentabilidade ganham cada vez mais espaço, e as empresas têm se preparado para o futuro com iniciativas voltadas para o consumidor e se concentram em tornar essas ações possíveis, convenientes, e de fácil entendimento para todos. A sustentabilidade é um assunto complexo para o consumidor médio – muitas vezes é difícil para eles fazerem escolhas éticas, apesar de suas boas intenções. Enquanto a maioria dos compradores mais jovens alega que a sustentabilidade é um fator importante nas suas decisões de compra, seu comportamento sugere o contrário, pesquisas comprovam que ainda é pequeno o número de jovens que reciclam suas roupas, por exemplo. Porém ao mesmo tempo os jovens já pensam na probabilidade de aumento de vida útil de seus produtos, escolhendo peças que durem mais, com melhor qualidade e que tenham propostas de ajuda ao planeta. Reciclagem é um caminho fundamental para marcas e varejistas para promover a circularidade nas lojas e ajudar os consumidores a navegar pela sustentabilidade. Fibras doadas agora estão encontrando seu caminho de volta ao produto, estendendo sua vida útil e o valor do material. Grupos como a H & M, já arriscam em metas ambiciosas em torno da sustentabilidade, dizendo que até 2030 pretende usar materiais 1 00% reciclados e sustentáveis em seus produtos. Hoje a maioria de suas marcas já utilizam caixas de reciclagem, que são caixas de retorno de peças usadas, essas peças geram aos consumidores um vale de £ 5 (cinco libras), que pode ser usado como parte do pagamento de suas compras futuras, incentivando cada vez mais os consumidores a práticas conscientes. A C&A, já em 2006, começou a monitorar sua rede de fornecedores e, em 201 5, lançou sua estratégia ABRIL 2019 - REVISTA AMOORENO - 23