POR QUE ADÉLIA?
A
délia Sampaio nasceu
em 1944, Belo Hori-
zonte. A mãe era do-
méstica e trabalhava
para uma família que
após a morte da matriarca, mu-
dou-se para o Rio de Janeiro,
levando consigo a empregada e
suas duas filhas. Nessa época,
Adélia tinha 4 anos e nenhum
contato com o pai. Em solo ca-
rioca, a nova patroa enviou as
meninas - sem consentimento da
mãe - para um internato. Quan-
do a empregada encontrou suas
filhas, depois de seis meses
sem as ver, a patroa transferiu
Adélia para um asilo em Santa
Luzia, Minas Gerais. Sete anos
se passaram, a mãe da menina fi-
nalmente conseguiu tirar férias
e viajar para encontrar a filha.
Aos 13 anos, Adélia retornou
ao Rio de Janeiro e foi pela
primeira vez ao cinema. A irmã
trabalhava em uma empresa que
distribuía filmes russos. Uma
paixão pelo cinema tomou conta
de Adélia. Trabalhou em diver-
sos comércios para ajudar a mãe,
até que em 1968, foi contratada
para ser telefonista da DiFilm,
distribuidora ligada ao Cinema
Novo. Ela foi maquiadora, câme-
ra, produtora… passou por todas
as funções de um set de cinema
ao longo de 70 filmes, até che-
gar à direção. Em suas obras,
a maioria dos atores eram ne-
gros, e durante a produção, fa-
zia questão de passar o roteiro
para eletricistas, maquinis-
tas e assistentes de câmera.
Não foram poucos os desafios
dessa cineasta. Mulher, negra,
dois filhos para criar e um mari-
do preso pela ditadura militar.
Como se todos esses fatores não
bastassem, seu primeiro longa-
-metragem foi “Amor Maldito”,
uma história com tom policial
sobre o amor entre duas mu-
lheres, em plena década de 50.
Uma revista com tanta persona-
lidade e opinião não poderia
ser chamada por qualquer nome.
A escolha foi homenagear um dos
ícones da arte nacional, uma
mulher que teve coragem para
enfrentar todos os preconcei-
tos de sua época. Adélia é a
primeira cineasta negra a di-
rigir um longa-metragem no Bra-
sil. Adélia é representativida-
de e opinião. Adélia é Adélia.
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