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arba por fazer, sotaque nordestino carrega-
do, carisma e muito brilho no olhar. “Você de-
morou pra encontrar a minha casa? Devia ter
perguntado pra qualquer um da rua, menina. Aqui
todo mundo me conhece”. Esse é Miguel Batista, ce-
arense de Limoeiro do Norte e morador de Diade-
ma há mais de 20 anos: é um homem de mil faces.
Aos 71 anos já percorreu todo o nordeste brasileiro e
todos os países da América do Sul. Procurando mais que
apenas as vivências, suas viagens são uma busca cons-
tante dos melhores cenários e inspirações, servindo
como um grande combustível para sua paixão: o Cinema.
Miguel já fez de tudo. Trabalhou, em São Luís do Mara-
nhão, na construção da Rodovia Transamazônica, presen-
ciou (mesmo sem saber o que significava todos os aviões
e os “homens uniformizados”) a Guerra do Araguaia, foi
segurança de Tom Jobim e Tônia Carreiro no Rio de Ja-
neiro, cobrador de ônibus e carpinteiro. Em 1980, en-
trou para o seminário na Bahia, mas acabou abandonando
3 anos depois por acreditar que a função de pedreiro
seria socialmente mais útil que a de um sacerdote.
Tornou-se pedreiro aos 35 anos de idade e lecionou
idiomas. Miguel é poliglota e autodidata, aprendeu
tudo que sabe apenas com a leitura de livros em Inglês,
Italiano, Francês, Espanhol, Esperanto, Romeno, Tupi,
Guarani, e Latim. “A estante aqui é grande e eu tenho
muitos livros, mas ninguém me pede nada emprestado por
estarem sempre em outra língua.”, comenta sorrindo.
Depois de 36 anos ainda trabalha como pedrei-
ro e reside em Diadema, onde mora humildemen-
te com sua esposa, dividindo seu tempo entre a
leitura, os cordéis e seus próximos projetos.
A trajetória do cineasta é longa. Miguel se interessa
pelos filmes desde sua juventude e até hoje já dirigiu
obras dos mais variados gêneros, tendo como maioria as
histórias de cunho social, religioso e autobiográfico.
Mesmo tendo uma forte ligação com as artes des-
de que vivia em Limoeiro do Norte, Miguel teve seu
primeiro contato efetivo com o cinema no Centro Cul-
tural de Promissão, na prefeitura de Diadema. Ini-
ciou atuando, aos 51 anos, no curta de um colega,
“Sob Viver”, e desde então não parou mais. Hoje já
participou de mais de 20 filmes, atuando ou dirigin-
do. Colocou suas ideias no papel, começou a escre-
ver seus roteiros e se engajou com suas produções.
Um de seus filmes mais famosos é o “Pisadas Marcan-
tes”, que tem aproximadamente 6 minutos e mostra, de
forma sensível e desnuda, a realidade de trabalhadores,
o abandono das camadas populares e o inexplicável das
religiões. O curta-metragem foi premiado com o ter-
ceiro lugar do Prêmio Plínio Marcos, um dos principais
prêmios do circuito de cinema amador e alternativo.
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