grama, na verdade, é uma “faca
de dois gumes”, porque ao mes-
mo tempo que promove aceitação
do mundo drag, também padroniza
os estilos, fazendo com as pes-
soas aceitam, mas apenas em um
determinado formato. Além dis-
so, na visão do grupo, o Drag
Race promove uma ideia de que
as artistas têm que ser boas em
tudo e saber tudo de maquiagem
e costura, isso faz com que as
pessoas levem drag a sério de-
mais. Para Maldita, isso não faz
o menor sentido: “O que faz uma
Drag Queen é o que você tem a
dizer, você pode subir no palco
com uma roupa da Renner e uma
peruca toda cagada e fazer mais
pelo movimento do que uma mana
que está de diamante da cabeça
aos pés.”
Sendo assim, todas pensam que
o projeto do espetáculo Vale a
Pena Ver de Drag é fundamental
para dar um impulso da essência
de ser drag. O grupo elaborou
toda a apresentação pensando no
conceito de que fazer drag também
é uma questão política. Leonna
se manifestou na roda contando
uma de suas experiências:
“Sair montada
para outros lugares é
uma questão de
política”
‘eu estou aqui montada, você
não espera ver isso mas vai ter
que ver, é isso que existe’. Eu
fui uma vez tomar café da manhã
no Paris 6 montada, porque eu
posso e eu vou, as pessoas tem
que aceitar.”
Nesse instante, Lyra se ma-
nifestou e lembrou que já eram
cinco e meia da tarde, o prédio
fechava em meia hora e elas pre-
cisavam levar as coisas embora.
Todas levantaram rapidamente e
começaram a recolher tudo, se
despediram e só se encontrariam
novamente no dia do espetácuLo.
Maldita relatando suas vivências durante o espetáculo
20
O Espetáculo
Uma das apresentações
aconteceu na Casa 1, centro de
cultura e acolhimento LGBT. Lo-
calizado no centro de São Paulo,
o local é um tipo de galpão que
se parecia muito com uma esco-
la. Prateleiras estavam espalha-
das por todo o ambiente e tinham
livros de diferentes temáticas,
desde aulas de inglês nível bá-
sico até artigos ativistas sobre
a vereadora Marielle Franco. O
palco se encontrava bem no fundo
e, como o espaço era pequeno,
as cadeiras estavam mal organi-
zadas em sua frente. Mas o que
realmente chamava atenção era a
grande bandeira LGBT que esta-
va pintada na parede do lado do
palco. Ali estava o marco do es-
petáculo.
As drags se arrumaram em uma
sala que ficava bem do lado da
área de apresentação e ali ex-
plicaram um pouco a temática do
show. Para Maldita, o espetáculo
gira em torno de dizer algo que
precisa ser dito e ninguém está
dizendo, ou um espaço para di-
zer o que querem mas que ninguém
estáw ouvindo. Por isso, alguns
momentos mais densos aparecem.
Lembrando que o público alvo da
peça são pessoas conscientiza-
das, nenhum homofóbico, racista
e extremamente machista vai ao
teatro assistir uma obra de Drag
Queens, afirmou Maldita.
Quando todos já estão senta-
dos, o show começa. A princípio,
são cenas de apresentação das
personagens, o quem é quem aca-
ba sendo mostrado de uma forma
cômica para o público. Ao de-
correr da peça, um quadro cha-
ma muita atenção. Leonna simula
uma apresentadora de Talk Show
e convida Maldita para uma con-
versa e sem rodeios já questio-
na: “Quando foi que você decidiu
deixar de ser homem? É assim que
pergunta?”. Durante o quadro,
Leonna não deixa Maldita respon-