ENQUANTO ISSO NA SALA DE JUSTIÇA
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A lei guia o magistrado, porém os espaços para interpretação são vastos. E não poderia ser diferente, pois “a lei é morta e o juiz é vivo”
A falta da “bola de cristal” e o duro ofício do juiz em decidir
Eu não tenho bola de cristal”, teria dito o juiz que concedeu liberdade ao homem que viria a ser o assassino da sua ex-esposa no dia seguinte. A fala do colega vem sendo hostilizada e recebendo alfinetadas da opinião pública na clara intenção de quererem atestar seu erro ao custo de uma vida.
Não conheço o processo – e nem que conhecesse poderia comentar alguma coisa. Conheço o colega e sua fama de ser um juiz e professor de direito excepcional, mas também isso não é o que mais interessa. Acho que vale a pena parar para pensar – e pensar coletivamente – a partir dessa fala do colega é o que ele acabou dizendo sobre a nossa profissão.
O risco está no cerne do exercício da magistratura. Nossa função é decidir. Decidir não é fácil – nem sobre a própria vida, imagina com relação à dos outros. Implica sempre em perdas e, como dizia, necessariamente em algum risco. O espaço de decisão para o juiz é sempre um espaço de angústia (“não temos bola de cristal”) e a trajetória inteira de uma carreira pode ser resumida como um treino no contorno dessa angústia com a entrega de uma produção: a melhor decisão possível .