Revista 90 anos de música caipira - rumo ao 100 Revista Musica Caipira_site | Page 7

este grande realizador, que se dedicou e consolidou a transformação do registro da música caipira, fazendo memória na história e abrindo as porteiras para esse gênero musical que é a cara do Brasil. O gênero que traz o sabor da terra e do encantamento do meio rural, com canções entoadas na viola de dez cordas, a viola caipira, e perpassa gerações com suas raízes preservadas e valorizadas. As narrativas típicas do início da música caipira descrevem as difi culdades da vida rural e o caráter discreto do caipira, esplendoroso nas narrativas que versam sobre a vida, a morte, e os infortúnios da vida rural. É uma história que percorre os rincões do país e se consolida ao longo de 90 anos, com passos de glória e luta, trilhados por grandes nomes, que fi zeram e fazem parte desta bela história: como Raul Tôrres, de pseudônimo Bico Doce, e de Paraguassu, de pseudônimo Maracajá, Nhô Pai e Nhô Fio, Xerém e Tapuia, Palmeira e Piraci, Alvarenga e Ranchinho, Inezita Barroso, Pena Branca & Xavantinho, Liu e Léo, As Irmãs Galvão (As Galvão), Renato Andrade, Almir Sater, Roberto Corrêa, Zé Mulato e Cassiano, Raul Torres e Florêncio, Gerson Coutinho da Silva — o Goiá, Pereira da Viola, As Galvão e tantos outros. A lista de ícones desse segmento é imensa! Podemos destacar numa linha do tempo, estabelecida entre as décadas de 30 e 80, os seguintes ícones que desempenharam papel fundamental no estabelecimento da música e da viola caipira: ANOS 1930 – CORNÉLIO PIRES (1884/1958) ANOS 1940 – “TONICO (1917/1994) & TINOCO (1920/2012)” ANOS 1950 – INEZITA BARROSO (1925/2015) ANOS 1960 – RENATO ANDRADE – (1932/2005) e TIÃO CARREIRO – (1934/1993) ANOS 1970 – ROLANDO BOLDRIN – (1936) e BAMBICO(1944/1982) ANOS 1980 – “PENA BRANCA (1939/2010) & XAVANTINHO” (1942/ 1999) ANOS 1990 – HELENA MEIRELES (1924/2005), TAVINHO MOURA (1947) e ALMIR SATER (1956) A grande porta-voz dessa cultura é a viola caipira, o instrumento de 10 cordas, trazida pelos portugueses nos primeiros tempos da colonização, utilizada na catequese pelos jesuítas, que ganhou as festas religiosas e populares, como a Folia de Reis, a Folia do Divino, a Congada, dentre tantas outras. Depois de um longo caminho, a viola caipira chegou na academia, às universidades de renome internacional, como a Universidade de São Paulo, que criou o primeiro curso de graduação em viola caipira coordenado pelo pesquisador-violeiro Ivan Vilela. A música caipira se concebe pela busca da preservação da cultura tradicional de raiz, traçada na rota do Brasil Caipira, desde o interior do Centro Oeste ao Centro Sul do país, que emerge de uma expressão cultural legítima e se constitui como verdadeiro tesouro da cultura nacional. É importante ressaltar, ainda, a justa homenagem à cultura caipira, que se constrói por meio do projeto de lei que institui o dia 13 de julho como o Dia Nacional da Música e Viola Caipira (PL 399/2019) e que tramita, hoje, na Comissão do Senado, aguardando aprovação fi nal. Ao celebrar 90 anos desejamos que seu centenário receba maior atenção e que a música caipira, assim como a viola caipira, tenha um lugar de maior destaque no cenário cultural, com ênfase na refl exão de seu futuro, na preservação e valorização de uma das mais relevantes e signifi cativas expressões artísticas da identidade cultural brasileira. 7