Ao abrigar o ferido na casa da sua senhora, o escravo Túlio proporciona o encontro de Úrsula e Tancredo,
vem o início da paixão. Momento em que sobressai a dignidade de Túlio, que termina ganhando a alforria
como sinal de gratidão do homem branco por ter tido a vida salva pelo escravo herói. Túlio é a figura do
jovem de bom caráter e humano, mas que se julga em dívida com aquele que o libertou. Mas sua nova
condição é alertada por mãe Suzana, quando define esta “liberdade”, momento em fala do seu território de
origem.
É mãe Suzana quem explica a Túlio o sentido da verdadeira liberdade, que não seria nunca a de
um negro liberto em um país racista. No nono capítulo, é quando recorda sua terra natal, a infância livre, o
amor de seu marido e a vida feliz que levavam junto à filhinha, até o dia em que foi capturada e levada para o
Brasil.
O desfecho trágico do romance parece querer dizer que não existe um final feliz possível numa terra
dominada por homens cruéis e egoístas, como o comendador, e conduzido pelo regime brutal da escravidão.
Enquanto houver comendadores e escravidão, não há esperanças de que almas boas como as de Úrsula,
Tancredo, Túlio e mãe Suzana possam viver sobre a terra.
O discurso antiescravista se passa em praticamente toda a obra de Maria Firmino, ela desconstrói
uma história literária etnocêntrica e masculina. Na história, o negro não foi diminuído como mero escravo, foi
colocado no mesmo nível que o branco em certos pontos, buscando dar espaço a sua narrativa da
escravidão, conduzida pelo ponto de vista no negro escravo, dando capítulos para que contasse um pouco de
sua história e, assim, levando o leitor a compreender um pouco os acontecimentos da época.
Em relação à leitura, Maria Firmino no início do livro pede para que seus leitores não sejam tão
críticos com sua obra. Sua linguagem e alguns pontos do drama faz com que tenhamos muitas dúvidas
durante a leitura, mas ao longo da história acabamos interpretando com mais facilidade a obra. Uma obra
como esta, que foi redescoberta, que conta muito de nossa história, dá a possibilidade de se refletir sobre os
conflitos existentes em nossa sociedade desde sua formação.
Suelen Sena
Edição 1 - 2019 - Úrsula