M . E D U A R D A
B O R G E S
Ú R S U L A
Úrsula
Títulodo livro: Úrsula e outras obras
Editora: Câmara dos deputados
Ano: 2018
Número de páginas: 306
Autor (a): Maria Firmino dos Reis
OBS: Livro originalmente publicado em 1839, mas a edição
resenhada foi publicada em 2018
ÚRSULA
A obra “Úrsula” de Maria Firmina dos Reis, publicada em 1859, nos faz refletir sobre a estrutura da
sociedade brasileira no século XIX, principalmente em questões raciais. Escrita por uma mulher, negra e
nordestina, “Úrsula” se destaca por diferir de diversas obras publicadas anteriormente, ao tratar de questões
sociais jamais abordadas e por incluir, pela primeira vez, o negro com maior visibilidade na história.
No contexto do Brasil do século XIX, a autora retrata uma história romântica entre um jovem nobre e
uma moça bondosa, Tancredo e Úrsula. A trama começa quando Tancredo, beirando a morte, é salvo por
Túlio, um escravo de bom e nobre coração. Levado para a casa de Luísa pelo seu mais novo amigo para ser
tratado, Tancredo apaixona-se ao conhecer a doce Úrsula, filha de Luísa. Ao seu desenrolar, surgem novos
personagens a fim de impedir o romance entre Tancredo e Úrsula, como é o caso do comendador Fernando,
tio de Úrsula e um homem poderoso e autoritário.
O amor trágico retratado na obra é a base de todo o desenrolar da história, entretanto, Maria Firmina
utiliza dos recursos da linguagem para elevar a imagem do negro na sociedade através da literatura, fazendo
com que o leitor reflita após sua conclusão. O primeiro ponto mais evidente seria a diferença de linguagens.
Além dos negros contarem suas próprias histórias, não há uma diferenciação entre os negros e brancos na
obra em relação à fala, o que foi um recurso muito bem aplicado pela autora em seu objetivo de tratar sobre as
questões raciais em sua obra. Por seguinte, Maria Firmina engrandece a imagem negra através das
personagens, dando voz a elas e um fim heroico, uma nobreza nunca vista antes na literatura ao retratar o
negro.
A respeito das representações femininas, a autora insere diversas características em suas personagens
que são presentes nas mulheres que vivem sob uma estrutura patriarcal da época, mas junto a tais traços,
insere outros, com destaque principalmente em Mãe Susana. Mulher, negra e escrava, afastada de sua família
e de seu país, Susana não demonstra fraqueza em momento algum durante a obra e sempre se mostra
guerreira e determinada. Maria Firmina dá um destaque especial para a imagem da mulher negra, ato que é
perceptível no capítulo em que Mãe Susana conta sua história. Há também a imagem da mulher submissa ao
homem, perceptível principalmente na mãe de Tancredo. Por fim, é interessante ressaltar que Úrsula mora
sozinha com sua mãe, vivendo em uma estrutura familiar que difere da ideia de família brasileira do século
XIX.
Edição 1 - 2019 - Úrsula