Resenha da 301 ADM Resenha da 301 ADM | Page 31

L U C A S C O R R E A L A U E L I M A R T I N S Ú R S U L A Úrsula Título do Livro: Úrsula e outras obras; Editora: Edições Câmara; Número de páginas: 301 (livro completo); 139 (somente Úrsula); Autor (a): Maria Firmino dos Reis OBS: Livro originalmente publicado em 1839, mas a edição resenhada foi publicada em 2018; As diferenças sociais e étnico raciais em Úrsula Através dos séculos de perpetuação dos mais variados tipos de textos, a literatura brasileira apresenta-se como ferramenta catalisadora da realidade a qual se insere. Tal qual o pincel nas mãos do pintor, o texto literário tem o poder de, subjetivamente, pintar um quadro que reflete os mais variados comportamentos, situações, acontecimentos e sentimentos de algo ou alguém, podendo se manter vivo e ativo nos muitos anos sucessores à sua publicação. A literatura que aborda situações e sentimentos corriqueiros pode e deve ser debatida por anos, décadas, séculos. A exemplo disso, desde que o mundo é mundo, sofremos por amor, nos sentimos injustiçados e lutamos contra o que consideramos ser impossível. No tangente a isso, o romance Úrsula, é uma obra que explora e crítica as posições étnico-raciais travestida de um romance improvável. O livro situa-se pouco além da metade do século XIX, momento em que o romantismo encontrava seus anos de ouro em produções europeias como "Emma" de Jane Austin, que influenciaram uma geração inteira de romancistas brasileiros, consequentemente levando a obras como "O Guarani" de José de Alencar e "A escrava Isaura" de Bernardo Guimarães. Este último destaca-se não apenas por conter uma personagem forte e que movimenta a narrativa, mas por abordar em certa medida o ponto de vista dos escravos, grupo majoritário em números, mas minoritário socialmente. Assemelha-se, assim, à Úrsula de Maria Firmino, mas diferem-se pela abordagem dada ao tema da escravidão. Quando Firmino escreveu o livro, o publicou sob o pseudônimo "Uma Maranhense", aproveitando-se de sua naturalidade para aventurar-se como escritora, sem ser julgada em uma sociedade literária estritamente dominada por homens e por brancos. Sua obra foi esquecida por mais de um século, não apenas por ser de autoria feminina e negra, mas também por ser, sem dúvidas, uma narrativa divisora de águas. Pela primeira vez na literatura brasileira apresenta-se de maneira significativa os personagens escravos. Eles mesmos contam suas histórias, falam sobre seus próprios caminhos, dores e sofrimentos, possuindo voz pela primeira vez. Edição 1 - 2019 - Úrsula e outras obras