Religião e Conhecimento Material da Revista de Religião (3) | Page 27
história de mundo, não sendo visto então como narrativa fantástica. Nesse
contexto, Lévy-Strauss (1989) ressalta a importância da compreensão de um
mito a partir do conhecimento sobre a cultura dos povos que o originaram,
concebendo estes como arbitrários e sem significado quando proposto seu
estudo isoladamente.
Diante disso, a literatura mitológica, por seu caráter lúdico, se apresenta
enquanto possível forma de incorporação de preceitos da cultura indígena e
africana em prol da inclusão em contexto de educação infantil. As características
físicas dos personagens trazendo traços propriamente brasileiros e sua
apresentação como heróis e heroínas, confere às narrativas, ao mesmo tempo, a
admiração e identificação com os personagens. Se opondo à narrativas dos
contos europeus, os personagens da mitologia brasileira são em sua maioria
negros e/ou de pele avermelhada, com os mais variados tipos de cabelo e
vestimentas, além de uma bagagem linguística que se aproxima das
regionalidades.
A mitologia dos Orixás e Tupi-guarani se insere, a partir disso, como
possibilidade de introdução de estudos relativos à riqueza simbólica que
religiões de matriz africana e indígena possuem, ao mesmo tempo que
representam a preservação cultural e resistência desses povos.
Nesse contexto, a presença de múltiplas narrativas no ensino infantil abre
espaço para uma representação da criança negra e indígena, ao mesmo tempo em
que confere um lugar de diálogo sobre diferenças e a constituição da cultura
brasileira. Os mitos e ensinamentos originados a partir destas religiões, quando
levados à ambiente escolar, ultrapassam a barreira do sagrado, se constituindo
enquanto conhecimento de um povo sobre sua própria história.
ELÍADE, Mircea. Mito e realidade . São Paulo, Perspectiva: 1972.
LÉVY-STRAUSS, Claude. Mito e Significado . Lisboa: Edições 70, 1989.