Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 8

APRESENTAÇÃO Por uma cidade mais justa O ano de 2015 foi marcado pela forte reivindicação pelo direito à cidade. Não à toa, já que a luta para existir na cidade é cotidiana, uma vez que, historicamente, os processos de urbanização se caracterizam pela exclusão da pobreza. A desigualdade na ocupação física da cidade se revela de forma mais enfática ao analisar o valor social agregado a cada território, a forma de tratamento e serviços oferecidos à população. Dessa forma, já era previsto o descontentamento com governos e governantes diante das tentativas de retirada de direitos fundamentais previstos na Constituição, como o direito à vida e à moradia digna. A opção pelo desgoverno gerou diversas resistências que se expressaram de diferentes maneiras no cenário social e cultural do estado do Rio de Janeiro. Se houve o avanço do conservadorismo na política no cenário nacional, que levou ao retrocesso de garantias de direitos tais como a redução da maioridade penal, a revisão do Estatuto do Desarmamento, bem como o projeto que dificulta o acesso ao aborto legal à mulher vítima de estupro. Também foi possível observar as ruas voltando a ser o palco de mobilizações, com especial protagonismo de mulheres, em um crescente despertar feminista como há muito tempo não se via em todo o Brasil. Esse fato prova que as manifestações, iniciadas em junho de 2013, ainda ecoam sobre o cotidiano de nosso país, principalmente no Rio de Janeiro. Portanto, se por um lado, o ano de 2015 trouxe desalento, por outro, também demonstrou que diante das adversidades existe espaço para luta que deve ser travada de forma criteriosa, criando novas formas de pensar e atuar. Há que se chamar a atenção ainda sobre a ampliação das ações no campo penal, com forte ruptura das garantias fundamentais trazidas no texto constitucional brasileiro. A operação Verão no estado do Rio de Janeiro, iniciada em 2015, ilustra de maneira qualificada este estado de coisas. A operação tomou como base de atuação a detenção antecipada, a uma suposta prática de delitos, de jovens negros, pobres e moradores de favelas e periferias. Uma política pública, calcada na produção do medo, que enfatiza a discriminação, segregação e exclusão social daqueles que possuem baixo poder aquisitivo. Aliado a isto, houve a chamada racionalização dos meios de transportes que encerrou o funcionamento de diversas linhas de ônibus que trafegavam de bairros pobres da zona norte para a zona sul da cidade. Trata-se de uma disputa simbólica que delimita quem são os donos da cidade e quem nela pode circular. Mesmo diante deste quadro, há conquistas a se comemorar em 2015. Porque o Rio de Janeiro despertou com um Amanhecer Contra a Redução, atividade desenvolvida pela juventude que não aceita o seu encarceramento prematuro com uma lógica punitivista, além das mobilizações do movimento de mulheres contra o Projeto de Lei