Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 61

60 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 xualidade. Eles estão invisibilizando a sigla T ou a sigla B ou a sigla trasvesti, invisibilizando de fato essa população que fica marginalizada. O problema é a falta vontade de ouvir o que as ruas e os coletivos têm a dizer. CDDHC: Qual é o objetivo do projeto do Tem Local? Thiago Bassi: O Tem local? surgiu porque temos poucos relatórios que possam informar de fato o que acontece quando o tema é a lgbttfobias. Existe o Rio Sem Homofobia, mas os dados apresentados são completamente irrisórios referente às agressões lgbttfóbicas no Rio de Janeiro no ano passado. Ou seja, uma quantidade muito baixa de agredidos. Além disso, o órgão ainda chama de “homofobia” né? Então, na prática, não determina o que é transfobia. Ao fazer uma denúncia na delegacia, por exemplo, a pessoa é completamente ridicularizada, desrespeitada, não é ouvida e é um sacrilégio conseguir que o delegado coloque no registro de ocorrência que você foi vítima de homofobia. Além disso, travestis e transsexuais ainda são categorizados como homens sofrendo homofobia, só que não é homofobia é transfobia. Está na hora de rever esse formulário da polícia e mudá-lo apresentando um campo para transfobia. A identidade de gênero precisa ser respeitada. CDDHC: Como surgiu a mobilização de rua contra a transfobia em alguns locais do Rio de Janeiro? Thiago Bassi: As ruas estão se mobilizando e o Tem Local? nasce como uma ferramenta de denúncia que a partir dela as pessoas podem não só denunciar suas experiências como podem fazer denúncias sobre ato que aconteceram com outras pessoas. Nossa ideia é criar uma rede de coletivos parceiros que dentro do 'Tem local?' possam cadastrar denúncias no site sendo coletivos ou inclusive tendo algum fato ou ato de lgbttfobias próximo da região. A gente entra em contato com esse coletivo, para que possamos tomar alguma atitude ou fazer um ato de acolhimento para a pessoa que foi agredida ou até mesmo atos no local que ocorreu o preconceito, porque a gente sabe que hoje a homofobia agride, a transfobia mata, lesbofobia estupra e a bifobia invisibiliza. Qualquer preconceito tem que ser denunciado e eliminado. Tivemos a denúncia do caso do bar Durangos que foi transfóbico com a Indianara do grupo TransRevolução e mobilizamos um escracho. Tacamos purpurina no local, tivemos sangue falso jogado no chão, teve velas acendidas com porta-retratos e uma banda fúnebre tocou na frente do bar. CDDHC: Por que você está nessa luta pela lgbttfobias? Thiago Bassi: É uma faceta da personalidade da pessoa que tem tantas outras facetas que não é só LGBTTs. Mas só que a vertente LGBTTs é tão visível e é tão escrachado que se torna tão forte para sociedade. É objeto de desumanização da pessoa, e, a partir do momento em que uma característica se torna algo visto como objeto de ódio, isso tem que ser combatido. É o mesmo caso do racismo, da orientação sexual ou identidade de gênero da pessoa. Acho que quando você vê que uma pessoa é humilhada por outra por ser ou ter algo que não se enquadra no padrão cis heteronormativa, a principal luta é quebrar essa atitude praticada por conta da visão da sociedade, moldada em padrões morais estabelecidos de uma forma a humilhar, segregar. Esse tal padrão não pode existir, a moral tem que ser aberta a toda e qualquer tipo de formas independente do que a pessoa acredita que seja verdade. Não dá para impor a sua moral ao outro, porque a minha moral é diferente da sua. Acredito que se a gente pensar assim