Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 100

RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 99 Na ocasião, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) acatou a decisão da audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, em encaminhar o fim da base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Colégio Caic Theóphilo de Souza Pinto. A determinação foi anunciada em nota pela CPP em 6 de maio de 2015. Mas, a secretaria de Segurança Pública não cumpriu a determinação. Ainda em relação à Educação, outro tema abordado diz respeito à concessão de um terreno da prefeitura para criação de um polo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ) no Alemão. Apesar da cessão ter sido publicada em diário oficial pela prefeitura, na segunda quinzena de abril, os moradores questionaram o fato do local estar comprometido para moradia popular. “Não adianta a prefeitura ceder um lugar para a universidade que já está comprometido para outro fim”, criticou Udson Freitas, membro do Juntos Pelo Alemão. Udson também questionou o processo de pacificação: “A Constituição garante o direito à dignidade humana, mas não temos esse direito. Eu ajudo a pagar o salário desses policiais e a muniçã o que está matando meus amigos e meus vizinhos. As crianças na favela correm atrás de pipa, mas aqui ninguém corre porque pode levar um tiro pelas costas”. COTIDIANO DE VIOLÊNCIA Meu filho era amado por todos. Ele só queria ter o direito de falar e ser ouvido. A UPP tem que ser reformulada com o objetivo de nos ajudar e não nos matar”, afirmou Denise Moares, mãe de Caio, 20 anos, morto há um ano no Alemão. “Será que vou continuar a apanhar por ser negro?”, questionou o escritor Zen Ferreira ao narrar a agressão sofrida, no último dia 6 de abril, durante uma abordagem do Bope no Complexo do Alemão. “Me deram um soco na cara. E só depois pegaram os meus documentos. Quando viram que não tinha nada a ver (com o tráfico), o policial me abraçou e pediu desculpas. Me senti envergonhado e hoje eu choro de vergonha. Peço justiça e respeito”, concluiu emocionado. O chefe do Gabinete do Comando-Geral da PM, coronel Ibis Silva Pereira, pediu desculpas ao que classificou de “excessos”. “Estamos empenhados em repensar o processo de pacificação. A polícia é vítima e vitimizadora nessa guerra contra as drogas. São máquinas de guerra que embrutece pessoas e desumaniza”, afirmou. O presidente da Comissão Especial de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional, Reginaldo Lopes, que investiga a violência contra os jovens negros e pobres criticou a suposta guerra contra as drogas: “As taxas de elucidações de crimes não chegam a 8% e os presídios estão superlotados. Por isso, essa lógica errada de guerra às drogas é prejudicial à sociedade. Uma das ações da CPI está em torno do debate sobre o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que compartilha a responsabilidade sobre a Segurança Pública com o governo federal”, afirmou Lopes ao sugerir que todos as assembleias legislativas criem CPIs para tratar do homicídio de jovens negros. O encontro, que contou com a presença de lideranças locais e presidentes de associações, também teve a participação das deputadas federais Rosângela Gomes e Benedita da Silva; da deputada estadual Martha Rocha; da subsecretaria de Defesa de catástrofes naturais ou das chamadas “emergências complexas”. As emergências complexas são situações de gravidade social geradas pelos seres humanos, estando entre elas, os “conflitos armados”. À época, foi apresentado um conjunto de recomendações reivindicando a aplicação imediata da legislação internacional de direitos humanos. O relatório foi entregue às autoridades públicas, às organizações comunitárias do Complexo do Alemão, às entidades da sociedade civil do Estado do Rio de Janeiro e do país; e encaminhado ao relator especial da ONU para o Direito Humano à Educação; à Comissão Interamericana da Organização dos Estados Americanos (OEA) e ao Comitê dos Direitos da Criança da ONU para a tomada de medidas cabíveis, conforme previsto nos instrumentos internacionais de direitos humanos. 21. No dossiê, elaborado pelos 21 professores da escola, constam fotografias de todos os danos à infraestrutura da escola, mas também vídeos de ameaça a professor no exercício da sua profissão e a estudantes que estavam fazendo trabalho no pátio da escola, filmando a escola, realizado por policiais.