Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 80

RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 79
todeclarados negros , jovens e moradores da região sudeste do país . Na média , considerando a margem de erro , há um empate entre os que concordam e os que discordam desta questão .
Porém , se a tese “ bandido bom é bandido morto ” tem alcance social , a inclusão da pena de morte na Constituição Brasileira não tem a mesma receptividade . Ignácio Cano , em estudo realizado diretamente com policiais , identificou que 40 % dos policiais também concordam com a prática do extermínio . David Garlland 4 enfatiza que o processo de percepção do medo e da violência alterou a posição da classe média referente a questões judiciárias ou penais . Segundo ele , à medida que as pessoas se percebem como vítimas regulares de crimes , elas foram simultaneamente estimuladas a verem a si próprias como vítimas do governo total , das políticas de tributação e gasto , de programas previdenciários irresponsáveis , da inflação de sindicatos de trabalhadores e , nos EUA , de programas de ações afirmativas .
Os direitos do estado do bem-estar foram considerados como políticas públicas que contrariariam os interesses da classe média “ trabalhadora e decente ” em favor de promover benefícios somente aos pobres urbanos indesejáveis e cada vez mais desordeiros . “ Se as classes médias eram agora as vítimas , seus algozes eram uma subclasse indesejada , financiada por políticas previdenciárias equivocadas e protegida por profissionais do serviço social com interesses próprios e por elites liberais que não viviam no mundo real ” ( 2008 , p . 30 ). Essa posição política das classes médias foi alterada porque , em virtude da violência , de acordo com Garlland , o crime foi redramatizado .
Sob a perspectiva , em que o bem deve exterminar o mal , matar os sujeitos “ inimigos da paz da cidade ” que toma corpo na figura do traficante de drogas , e consequentemente , das populações que moram no mesmo local ou próximo onde o inimigo se encontra : as favelas . A criminalização da pobreza , não está somente em manter essa população à margem do Estado , mas em " associar o local onde ela habita à origem do terror . A figura do traficante nessas localidades é o que permite que se exerça essa política do " mata-mata ".
Assim , de acordo com o delegado Orlando Zaccone ( 2007 ), legitima-se o uso das prerrogativas de controle social permanente com uma política de segurança fundamentada em zonas de guerra . Não se fala na ausência do Estado que falha em atender demandas sociais e em seu lugar de articulador simbólico e político . O medo molda o cotidiano das grandes cidades , desde seus contornos arquitetônicos até o comportamento de seus habitantes . Um medo válido de acordo com as estatísticas de segurança pública . Não podemos deixar a barbárie ser a solução para violência . Precisamos deslumbrar espaço para mudanças desse cenário de disputa pela legitimidade desse " mata-mata ", inclusive , com condições para que novos padrões de atuação policial sejam construídos .
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj acredita que o trabalho da instituição não deve consistir em " enxugar gelo " e " limpar carvão " dos casos de violações de direitos que chegam à Comissão . Acolher as famílias vítimas de violência institucional , acompanhar as apurações dos crimes , fomentar soluções e pro-
4 . GARLLAND , David . A Cultura do Controle : Crime e ordem social na sociedade contemporânea . Rio de Janeiro : Revan , 2008 .