52 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015
projetos de expansão de interesse do setor privado. Todos os projetos que a Mariana da Glória apresentou iria ocupar toda a enseada da Glória, por isso, a estratégia é sempre a mesma: deslocar a área operacional de velas e lanchas, a área operacional da Marina, para aquela área em frente aos clubes do Calabouço, para liberar espaço e fazer centro de convenções, shoppings, locais voltados para o consumo. É por isso que sempre estão contra a permissão do acesso ao mar com uma rampa pública como era antes, fechando e destruindo essa rampa.
Câmara de Vereadores, por meio da Lei n º 4149 / 2005, tombou o Estádio de Remo da Lagoa, considerado exemplar referencial da arquitetura moderna brasileira. Estão preservadas as características arquitetônicas originais dos três blocos edificados e garante-se a participação de entidades desportivas e ligadas ao remo para consultoria técnica esportiva em todas as etapas do desenvolvimento do projeto de restauração e revitalização do imóvel. A lei do tombamento permite adaptações no conjunto edificado para adequações às funções esportivas e para atividades comerciais de suporte, de pequeno porte, desde que não haja perda da harmonia do projeto original.
9. Relatório Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro Dossiê do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro junho de 2014, disponível em < https:// comitepopulario. files. wordpress. com / 2014 / 06 / dossiecomiterio2014 _ web. pdf >.
CDDHC: Qual a importância dessa luta para o direito ao acesso de práticas esportivas em espaços públicos? Alessandro Zelesco: É fundamental. Se você conversar ou consultar praticantes de esportes, não só de remo, mas de outras modalidades como canoa havaiana, de canoagem, adeptos do stand up paddle, vai perceber que a população carioca hoje não usufrui da Baía de Guanabara. Inclusive, na audiência pública, a esposa do Amaro Machado, que foi o arquiteto que projetou a Marina da Glória, ressaltou que o projeto original da Marina foi realizado para devolver a cultura náutica à população carioca. Permitir aos cariocas nos momentos de lazer terem acesso à Baía de Guanabara para usufruir e se apropriar desse bem público: a baía. E para isso acontecer precisa de quê? De acesso livre ao mar, seja pela Marina da Glória ou por rampas públicas. E não estamos falando de iates ou lanchões, estamos tratando de pequenos barcos que a população pode colocar em cima do carro, parar em um estacionamento perto, levar até a rampa e por duas ou três horas ter a prática esportiva e depois sair do mar pela rampa e voltar para casa. A importância desse acesso ao mar de forma pública sem interferência está aí: em promover e desenvolver essa cultura náutica da população e com isso a preservação ambiental, porque ao utilizar as águas da baía, a população se preocupa com a água, com o esgoto e lixo jogado e acumulado lá. Você leva a população a lutar pela preservação da qualidade dessa água.
CDDHC: Como foi a experiência do movimento de Remo atuar e lutar junto com os outros coletivos de diferentes práticas esportivas no Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, diante dessa especulação imobiliária? Alessandro Zelesco: De suma importância. Aqui cabe ressaltar o papel do Comitê que congregou esses diversos movimentos: SOS Estádio de Remo, Ocupa Marina e tantos outros que defendem equipamentos esportivos como Parque Aquático Júlio Delamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, e demais equipamentos que estão precarizados, terceirizados e privatizados. O papel do Comitê é fundamental porque unifica essas demandas de luta e as potencializa. Um exemplo é a produção do dossiê 9 sobre os eventos esportivos, documento de fundamental importância que mostra as violações aos direitos humanos, ao direito à cidade e de todos nós. Mostra bem a falácia e a hipocrisia desse discurso de que aqui no Rio de Janeiro somos uma cidade olímpica quando temos equipamentos esportivos sendo privatizados, fechados e destruídos.
3.3. DIREITO DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS
Ao longo do primeiro semestre de 2015, a equipe técnica da CDDHC Alerj realizou diversos encontros entre representantes de comunidades tradicionais do Estado do Rio