Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 44
RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 43
Eu compro água. Mas e as pessoas que não têm dinheiro para comprar o pão de amanhã?
Vai comprar também? E o gás para ferver a água? Estamos à mercê de uma destruição
psicológica, de autoestima. É forte essa palavra? É. Mas infelizmente é a realidade. Você
fica doente com diarreia. Dá problema no estômago da criança … A pessoa se desespera
porque não tem dinheiro para a passagem para ir na UPA. E quando chega lá está cheio.
CDDHC: Por que você acha que o Caju sofre com esse abandono?
Maria de Fátima: Acho que é descaso, falta de respeito, amor. A maioria das pessoas
veem aqui como o bairro do cemitério, das carretas, da violência. Infelizmente se tornou
um bairro industrial e isso está matando a nossa essência e das pessoas que fizeram
história aqui dentro, que construíram o Caju. Antes não tinha empresa e o Caju sobrevivia. Hoje vemos pessoas com problema de pulmão... Tudo isso aumentou, e ninguém
faz nada. Aqui merecia uma clínica da família, decente. Fui para o Centro e demorei
mais de duas horas para chegar lá. Imagina uma pessoa passando mal? Vai morrer no
caminho. Uma coisa boa que aconteceu aqui foi a Vila Olímpica, mas ela não atende a
demanda do bairro do Caju. Precisamos de mais. Nossos problemas são coisas normais.
CDDHC: Qual sua opinião sobre o Ocupa Caju e as ações da Comissão de Direitos
Humanos da Alerj no bairro?
Maria de Fátima: Foi muito importante. Eu já tinha a curiosidade de entender melhor
o trabalho de vocês. O morador de comunidade precisa conhecer seus direitos. Sempre
gostei de trabalhar em cima disso. Quando vocês entraram aqui pensei que era uma boa
oportunidade. Pensei: quando nós estivermos buscando os nossos direitos, eles vão nos
apoiar. E eu não esperava que vocês voltassem. Alguns órgãos vêm aqui, uma vez só.
Tenho mania de dizer que é curiosidade. Fazem uma visita e nunca mais voltam.
É muito importante para a comunidade ser reconhecida, assistida, passar para vocês a
nossa visão, a luta que temos aqui dentro. Uma luta contra um poder maior, prefeitura
e governo. Eles poderiam aprender mais um pouco com vocês. Ouvir pelo menos. Sabemos que vocês não podem fazer muita coisa, mas quando vocês gritam são ouvidos.
E nós? Talvez na hora, mas depois somos esquecidos. Só somos ouvidos quando tem
violência na comunidade. Vem jornal e noticia... E depois acabou. E vocês são o canal.
Vamos dizer que, de dez batalhas, vocês vençam quatro ou cinco, é uma grande vitória.
E esse Porto Maravilha? Às vezes fico pensando. Se pudessem eles botavam um muro
para nos separar. Por que o Caju não entrou no projeto se faz parte do porto? Eu sou
leiga, não tenho entendimento. Só faço essa pergunta: por que nós ficamos fora?
3.1.3. INICIATIVAS DA CDDHC
Após a análise das reivindicações e depoimentos colhidos, a CDDHC encaminhou ofícios para os seguintes órgãos: Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), Ouvidoria
geral das UPPs, Secretaria Municipal de Habitação (SMH), Secretaria Municipal de
Educação (SME), Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), Companhia Estadual de Habitação (CEHAB), Secretaria Municipal de Saúde
e Defesa Civil (SMSDC), Secretaria Municipal de Obras (SMO), Fundação Instituto de