RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 50

Souza Aguiar, Maria Emília Amaral, os policiais militares passaram a deixar os corpos dos suspeitos mortos em supostos confrontos na emergência do hospital. E que, apenas em um espaço de vinte dias, foram dez cadáveres. Eles simplesmente despejam os cadáveres na emergência, transtornando a vida do hospital, sem nenhum respeito às pessoas que estão sendo atendidas. O hospital tem o compromisso de tratar os vivos [O Globo, 11/07/96]. A gratificação de Cerqueira e Alencar causaram inúmeras distorções no comportamento de uma corporação que nunca conheceu limites para o assassinato. Em 15 de abril de 1996, quando faziam uma operação no conjunto habitacional Amarelinho, em Acari, policiais do 9º BPM assassinaram o menino Maicon de Souza, de dois anos de idade, com um tiro na cabeça. Renato da Silva Paixão, outro menino de seis anos que brincava com Maicon em uma das ruas do conjunto, levou um tiro na boca, mas conseguiu sobreviver. Três semanas após o assassinato de Maicon, em 07 de maio, os policiais do 9º BPM mataram Luciano Silva de Jesus com um tiro na cabeça. Luciano tinha dois anos de idade e estava no colo da mãe, que passeava com o filho na favela do Muquiço, em Guadalupe, quando os policiais supostamente atiraram contra criminosos. O 9º BPM estava sob o comandado do tenente-coronel Marcos Paes desde agosto de 1995 e, desde então, 75 civis morreram em supostos confrontos nos quais apenas quatro policiais perderam a vida [O Globo, 11/05/96]. Marcos Paes era o líder do ranking entre os batalhões com mais mortes em supostos confrontos e, por sua atuação à frente do 9º BPM, se tornou o primeiro coronel promovido por bravura. No ano seguinte, no primeiro dia comandando o 3º BPM, o coronel Paes foi responsável pela morte de cinco pessoas em 15 minutos de confronto na favela do Rato Molhado, em Engenho Novo. Segundo noticiado, Os cinco suspeitos baleados, com idades entre 19 e 25 anos, morreram no hospital Salgado Filho, segundo o sargento Gama. Foram apenas 15 minutos de tiroteio. Eles foram socorridos pelos próprios policiais com quem teriam trocado tiros. No hospital, entretanto, os funcionários comentaram que os cinco já chegaram mortos [...] todos foram atingidos com quatro ou seis tiros na barriga, segundo o perito legista [O Globo, 03/10/97]. O coronel Paes, no início da carreira, foi lotado no DOI-CODI. Institucionalização das execuções sumárias