RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 11

Na Baixada Fluminense, os assassinatos de adversários por encomenda, as limpezas urbanas pagas por associações comerciais e os justiçamento voluntários, que constituíam episódios incorporados às estruturas sociais da região desde os tempos de Tenório Cavalcanti, chegaram a cifras estratosféricas no ano em que Brizola assume o poder. No dia 4 de janeiro de 1983, o jornal Última Hora publicou um balanço sobre a ação dos grupos de extermínio na região: Quase 800 homicídios foram registrados em apenas três municípios da Baixada Fluminense no ano de 1982, e desse total, 70 por cento são considerados pelas autoridades de autoria desconhecida, sendo as vítimas, em sua maioria, pessoas executadas por grupos de extermínio, a chamada Polícia Mineira e Esquadrão da Morte. A 51ª DP em Paracambi foi a que menos crimes de morte registrou, com um total de 7, seguido pelo município de Nilópolis com um total de 30. O município de Nova Iguaçu, porém, atingiu um total assustador, com o distrito de Belford Roxo, área da 54ª DP, registrando 255 homicídios. A 52ª DP, Nova Iguaçu, 190; a 53ª DP, Mesquita, 32; a 55ª DP, Queimados, 175; e a 56ª DP, Morro Agudo, 56. O município de Itaguaí registrou 55 homicídios. No caso da cidade do Rio de Janeiro, o peso das execuções sumárias de autoria das forças policiais aparece em uma nota do Jornal do Brasil que integra uma reportagem sobre pena de morte. No Brasil, por exemplo, a pena de morte foi abolida legalmente em 1945, mas um funcionário dos serviços de segurança do Rio de Janeiro afirmou recentemente que cinco mil pessoas tinham sido mortas na cidade na década passada por policiais brasileiros agindo como carrascos não oficiais de criminosos e suspeitos [JB, 07/07/83] Este era o cenário no qual Leonel Brizola se inseriu ao tomar posse. A travessia de Brizola Como assinalado anteriormente, o primeiro mandato de Leonel Brizola é levado a cabo em um contexto singular de abertura política, mas, em parte sob a égide do regime autoritário. A primeira metade de seu mandato se dá ainda no governo do general ditador João Figueiredo enquanto a segunda no governo civil, eleito indiretamente, de José Sarney. As constituições do estado e da federação só foram promulgadas quase dois anos depois de sua saída. Se, por um lado, é evidente que a conjuntura sui generis do país enfrentada por Brizola causava transtornos para a implantação de uma relação plenamente democrática entre as forças de segurança e os cidadãos da ainda incipiente