RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 12
Nova República, certo é que a ambiguidade política do momento também abria espaço
para inovações. E essa foi a saída encontrada por Brizola, ao menos no campo da
segurança, para conduzir uma série de experimentos mais próximos do conceito hoje
solidificado como segurança cidadã no estado do Rio de Janeiro: deslocou a
criminalidade do centro do conceito de segurança e adotou medidas centradas no
respeito aos direitos humanos, na prevenção, na multilateralidade do problema da
segurança e, por fim, na autonomia política e social das camadas mais pobres do estado.
Uma das características iniciais do governo Brizola, que não pode ser creditada somente
à sua figura, foi o engajamento popular nos planos de condução do estado, sobretudo no
que tange às políticas de segurança. Havia em todo o Brasil uma avidez enorme pela
liberdade que já se afigurava desde a anistia, ganhou força nas eleições para governador,
e que, no Rio, devido às pautas e promessas de campanha de Brizola, sobretudo quanto
a incorporação da massa trabalhadora, negra e favelada na vida pública do estado,
ganhou, contornos ainda mais densos.
A euforia participativa do cidadão comum ensejou centenas de reuniões de associações
de moradores e líderes comunitários, moradores de diferentes áreas do estado, para
elaboração coletiva de suas principais demandas. Dentre esses encontros um dos mais
representativos foi a reunião da Federação de Associações de Moradores do Estado do
Rio de Janeiro, que aconteceu nos primeiros dias de governo Brizola. O objetivo da
FAMERJ era produzir um documento propositivo que seria entregue ao governador no
fim de março, numa reunião agendada para o dia 27. No campo da segurança, as
reinvindicações da FAMERJ consistiam na 1] elevação da qualidade do ensino nas
escolas de polícia; 2] construção de delegacias em lugares de fácil acesso; 3] presença
de um policial junto às escolas; 4] integração entre os órgãos de segurança pública e as
associações de bairro; 5] melhor policiamento preventivo [O Globo, 11/03/1983].
Outro encontro que merece referência deu-se na favela do Jacarezinho. Escolhida em
campanha como a futura favela-modelo do governo Brizola, a comunidade do
Jacarezinho organizou uma reunião com um quórum e uma diversidade que ia “das
escolas de samba às associações”. A reunião contou com “mais de cem delegados –
representantes das comunidades religiosas, blocos carnavalescos, escolas de samba,
feiras de arte e associações de moradores locais, além de centenas de outros moradores”