RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 107

LUIZ FERNANDO PEZÃO 2015-2018 O governo de Luiz Fernando Pezão se caracterizou pela mais absoluta ausência de governo. Na esteira de sua omissão, as atrocidades da polícia voltaram a fazer parte da vida cotidiana em todo estado. Sobretudo nas áreas pacificadas, que aos poucos foram assumindo um caráter de pura subjugação, a violência letal do Estado se mostrou plena. A saída de Mariano Beltrame da Secretaria de Segurança Pública após dez anos de gestão também impactou diretamente nesse contexto, que alinhavava violência e vácuo de poder. À derrocada das UPPs segue, também, o avanço das milícias e a explosão da violência e do extermínio em diferentes níveis. Muito embora tenha sido um mandato repleto de acontecimentos trágicos no que tange à condução da política de segurança pública, com o retorno aos velhos índices de homicídios e de mortes em decorrência de intervenção policial, nos deteremos na análise de três pontos que merecem uma apreciação de maior fôlego: a intervenção militar; a execução da vereadora Marielle Franco; e o ocaso das ocupações armadas no Rio, das UPPS às milícias. Intervenção Militar No dia 16 de fevereiro de 2018, o presidente Michel Temer decretou uma intervenção federal no Rio de Janeiro por meio do decreto 9.288 de 2018. Tratou-se da primeira intervenção da União em um Estado desde a promulgação da Constituição de 1988. No entanto, a intervenção possuía um caráter especificamente militarizado, na medida em que o decreto estabelecia que a intervenção se limitaria à área da segurança pública e que o cargo do interventor seria de natureza militar. Com isso, a Secretaria de Segurança Pública passou às mãos do general Walter Souza Braga Neto. Configurou-se, assim, como intervenção federal-militar no Rio de Janeiro. A medida foi vista, à época, por diversos analistas, como uma medida eleitoreira de Michel Temer, em uma tentativa de capitalizar politicamente, a poucos meses das eleições presidenciais, com uma agenda que mobilizava os afetos da população. Com efeito, em pesquisa divulgada no início de março, o Datafolha apontava que quase 80% dos moradores da cidade do Rio de Janeiro apoiavam a intervenção 1 . Não à toa, também 1 https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/maioria-no-rio-aprova-intervencao-federal-mas- nao-ve-melhora-na-cidade.shtml