RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 9
branca” para sua ação. Contando com alguns veteranos da Polícia Especial de Getúlio
Vargas, criada em 1933 com fito de repressão política, mas também de “limpeza
urbana”, o SDE foi responsável por inúmeros assassinatos de pequenos criminosos,
moradores de rua, prostitutas, entre outros grupos marginalizados, no curto espaço de
um ano. Sua ação nesse período lhe valeu o apelido, dado pela imprensa, de “Esquadrão
da Morte”. A alcunha, anos mais tarde, viria a designar o mais famoso grupo de
extermínio do Rio de Janeiro. Não por coincidência, formado por alguns antigos
membros do SDE. Com a extinção do SDE em 1959, os policiais foram realocados em
outras unidades. Contudo, em 1962, diversos membros da equipe passaram a integrar a
Invernada de Olaria, grupo criado durante o governo Lacerda e subordinado ao
Departamento Estadual de Segurança Pública da Guanabara – comandado pelo então
coronel Gustavo Borges. Os membros da Invernada de Olaria não só executavam
criminosos e suspeitos, mas aterrorizavam moradores do subúrbio e da Baixada
Fluminense, além de assassinarem inúmeros moradores de rua, que eram afogados no
rio Guandu. Em 1963, uma CPI foi instaurada n Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro para investigação das execuções de autoria dos membros da Invernada.
Dois detetives foram expulsos e o próprio coronel enfrentava uma investigação quando
irrompeu o golpe em abril de 1964 – no qual Amaury Kruel e Gustavo Borges
exerceram papéis fundamentais.
Poucos anos depois, com a publicação do AI-5 em 1968, o aparato das polícias estaduais
se voltou para a perseguição, sequestro, tortura e assassinato de pretensos subversivos,
enquanto que, ao menos no Rio de Janeiro, os grupos de extermínio assumiram o papel
informal de controle da criminalidade urbana. Dentre eles, o Esquadrão da Morte foi,
sem dúvidas, o de maior notoriedade. Suas execuções eram comunicadas à imprensa por
meio de um misterioso porta-voz e a autoria confirmada pelas marcas registradas do
grupo: os braços do cadáver cruzados, uma placa onde se lia o suposto crime cometido
pela vítima e o símbolo da caveira com dois ossos cruzados – hoje o símbolo do
Batalhão de Operações Especiais, o BOPE. Em outubro desse mesmo ano o jornal
Última Hora publica um “manifesto” enviado pelo Esquadrão:
A voz do Esquadrão da Morte ao povo da Guanabara: muitos dos nossos
já tombaram vítimas de assaltantes e criminosos sanguinários. O povo é
testemunha que esses bandidos não respeitam crianças, velhos, senhoras
e trabalhadores. Assaltam e matam sem nenhuma piedade. Nós
trabalhamos apenas com uma intenção: defender a família que mora e