RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 8

LEONEL BRIZOLA, 1983-1987 O primeiro mandato de Leonel Brizola como governador do Rio de Janeiro ocupa um papel peculiar na história do estado e exige certo grau de contextualização. Em primeiro lugar porque sua ascensão ao poder, embora por voto popular, dá-se em meio aos momentos finais da ditadura. Tratava-se, à época, da primeira eleição direta para governos estaduais em quase vinte anos, desde o golpe de 1964. Brizola, que havia retornado do exílio em 1979, logo após a Lei de Anistia, era considerado um dos principais opositores do regime autoritário e foi o único governador de oposição eleito em todo Brasil. Tal contexto trouxe repercussões negativas na relação com a esfera federal e esse é um elemento importante no desenrolar de seu governo. Brizola também enfrentava uma revolução silenciosa dentro do “crime organizado”. O estado do Rio de Janeiro, loteado pelos barões do jogo do bicho, adentrava, ainda que de forma modesta, no grande mercado mundial da cocaína. Quase que em paralelo, mas sem coincidência alguma, tornou-se também um cliente privilegiado do mercado clandestino de armas. Esses movimentos, no entanto, ainda eram incipientes no ano de 1983, quando assumiu o governo do estado, mas surtiriam, nos momentos finais de seu mandato, um efeito devastador sobre sua popularidade. Finalmente, o Rio de Janeiro que Brizola encontrou ao se tornar governador vivia sob um clima de terror e violência jamais visto. Em primeiro lugar, devido ao caráter estratégico atribuído ao estado pelo regime militar, o que ensejava dura repressão aos setores e grupos considerados subversivos ou com potencial para tanto. Contudo, uma das facetas mais violentas do regime se mascarava na relação que detinha junto às polícias. Esse é um ponto que merece ser tratado antes de analisarmos as políticas de segurança de Brizola. Forças Armadas, Polícias e Grupos de Extermínio Na longa história da relação entre forças armadas, polícias e grupos de extermínio, duas figuras são centrais: os generais Amaury Kruel e Gustavo Borges. À época coronel, Amaury Kruel ocupava, em 1958, o cargo de Chefe de Polícia do Distrito Federal quando fundou, a partir de uma demanda da Associação Comercial do Rio de Janeiro, o chamado Serviço de Diligências Especiais ou SDE. O grupo foi criado como uma força- tarefa que tinha a incumbência de “limpar a cidade” dos marginais, obtendo “carta