RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 59
relação com as favelas no Rio de Janeiro: além da morte, o silenciamento violento da
dor e da angústia dos moradores.
Por pouco não se tornou um conflito generalizado. É claro que o fato de
não estar fardado ajudou. Os moradores já têm arraigado a ideia de que
policial é violento. Havia uma situação de uma população carente que
não tem voz, sofre abusos da polícia e só queria ser ouvida [O Globo,
15/05/99].
Quando ocorreu o protesto na Mangueira o Subsecretário já havia recebido sua primeira
ameaça de morte e seu telefone, bem como de outros membros da cúpula de segurança,
foram grampeados por agentes do Centro de Inteligência e Segurança Pública [CISP].
De acordo com o próprio Luiz Eduardo, o CISP trabalhava fora do controle do governo,
grampeando telefones no intuito de produzir dossiês que pudessem desestabilizar a
cúpula da segurança pública de Anthony Garotinho [O Globo, 05/04/99]. No mês
anterior à descoberta dos grampos, o coronel Marcos Paes, primeiro coronel a ser
promovido por bravura, comandante do 9º BPM e dono da mais alta taxa de letalidade
no governo Moreira Franco, havia assumido o setor de contra-inteligência do CISP. O
governador determinou a troca de todos os cargos de chefia do órgão, ordem que não foi
cumprida pelo Secretário de Segurança, resultando em sua exoneração. Em seu lugar
assumiu o coronel da PM Josias Quintal.
Mais que a exigência de mudança nos padrões de ação da polícia na sua relação com as
favelas, o que incomodava profundamente as corporações eram as propostas de
modernização e transparência da atividade policial, sobretudo a unificação das forças de
segurança na Nova Polícia e a criação do Instituto de Segurança Pública. As reações a
essas ideias foram violentas e se estenderam por quase todo governo de Garotinho.
No mesmo dia em que o governador assinara um decreto proibindo a venda de armas no
estado, seis pessoas foram assassinadas e vinte e três ficaram feridas em uma chacina
ocorrida em Duque de Caxias. Na noite de 03 de junho de 1999, oito homens
encapuzados desceram de um carro e abriram fogo contra mais de cem pessoas em um
bar, no bairro de Nova Campina, situado em frente a uma cabine da polícia militar. Um
dos encapuzados atirava com um fuzil AK-47. Em seguida entraram em uma Kombi
branca e, aproximadamente cinquenta metros à frente, atiraram contra as pessoas que
estavam em um trailer. A chacina teria sido planejada como vingança pela morte de um
policial. No dia seguinte à chacina de Nova Campina, o segurança de Josias Quintal foi