RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 57
No âmbito organizacional, as transformações operadas por Luiz Eduardo Soares na
estrutura da segurança pública foram sem paralelo. A proposta de integração dos agentes
de segurança trazida com a Nova Polícia; a criação do Instituto de Segurança Pública; a
divisão do estado em AISPs – Áreas Integradas de Segurança Pública; os Conselhos
Comunitários instalados em cada AISP; a criação do Programa de Proteção à
Testemunha; a Ouvidoria da Polícia; as Delegacias Legais; a construção das Casas de
Custódia; a implantação do Policiamento Comunitário; os projetos de Ocupação Social
nas comunidades; os Centros de Referência; e mesmo a publicação mensal dos dados
sobre criminalidade no Diário Oficial; constituíram – ou deveriam ter constituído –
uma verdadeira revolução.
No que tange aos direitos humanos, a passagem de Luiz Eduardo Soares marcou um
período no qual discurso e prática se encontraram. No dia 14 de maio de 1999, Alex
Sandro dos Santos, 14 anos, estava soltando pipa no morro da Mangueira quando
policiais civis da Metropol I iniciaram uma operação em busca de uma casa que seria
ponto de drogas. De acordo com testemunhas, os policiais chegaram atirando e Alex,
assim como outras pessoas, correu para dentro de casa. Os policiais acertaram um tiro
no seu pé. Mesmo ferido, conseguiu pular um muro e correr. Enquanto fugia, foi
alvejado diversas vezes pelos policiais. Inclusive na cabeça. O rapaz não tinha ligação
com o tráfico, mas seu irmão supostamente era um “soldado” do morro conhecido como
Nem Capeta, de doze anos de idade, que não foi pego na operação. Ainda segundo
testemunhas, os policiais teriam obrigado dois garotos da favela a arrastarem o corpo de
Alex até uma lixeira. Segundo noticiado:
Nas paredes da casa em construção, onde Alex Sandro morreu, sangue e
pedaços de massa encefálica compunham um cenário aterrador. Não
havia cápsulas deflagradas no local. Pelas vielas, até a rua Visconde de
Niterói, um caminho de sangue mostrava por onde o corpo do menor fora
arrastado [O Globo, 15/05/99].