RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 41
Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos; Anderson de Oliveira Pereira, 13; Marcelo Cândido
de Jesus, 14; Valdevino Miguel de Almeida, 14; Gambazinho, 17; Leandro Santos da
Conceição, 17; Paulo José da Silva, 18; e Marco Antônio Alves da Silva, 19; foram
executados enquanto dormiam.
Chacinas e insurgências
No final de agosto de 1993, vinte e um trabalhadores foram chacinados por um grupo de
extermínio na favela de Vigário Geral. O grupo, autodenominado Cavalos Corredores,
era formado em essência por integrantes do 9º BPM, historicamente um dos mais
violentos do estado. Nenhuma das vítimas tinha antecedentes criminais e foram
escolhidas a esmo, remetendo a padrões muito conhecidos nas matanças da Baixada. A
chacina, que nunca foi devidamente esclarecida, era, supostamente, uma vingança pelo
assassinato de quatro policiais, cuja autoria foi atribuída a traficantes da região. As
chacinas da Candelária e de Vigário Geral, em tese, ocorreram por motivações comuns
no contexto dos grupos de extermínio: a primeira, para limpeza urbana; a segunda, por
vingança à morte de um policial. Essas duas modalidades, até então, constituíam as
causas mais frequentes das chacinas desde os tempos da ditadura. Junto àquelas
motivadas por extorsão, formam o tripé da maioria absoluta dos casos verificados nessa
pesquisa.
No entanto, a execução dos meninos de rua e dos trabalhadores de favela, que se deram
num espaço de 40 dias, devem ser compreendidas à luz do estado de sublevação e
insurgência das corporações policiais durante o governo Brizola.
Em 1992, uma
pesquisa realizada junto a policiais militares, revelava que um terço da corporação
admitia já ter sido convidada para participar de grupos de extermínio. A mesma pesquisa
apontava que aproximadamente 90% dos policiais militares consideravam os menores
de rua como bandidos. Segundo noticiado:
Mostrando revolta contra a legislação, os PMs revelaram o desejo de
acentuar a guerra contra as crianças, citadas como bandidos comuns [O
Globo, 09/06/91].