RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 38
Volmer já havia sido ameaçado em novembro de 1990, na Favela do Lixão, em Duque
de Caxias, por um homem que encostara uma arma em suas costas. Passou então a
contar com proteção da Polícia Federal até meados de abril de 1991. No dia 15/04/91,
dois dias antes dos trabalhos da CPI do Extermínio de Menores na ALERJ começarem,
a Superintendência da Polícia Federal retira a proteção de Volmer, alegando falta de
veículos. No mesmo ofício enviado pela Superintendência ao vice-governador Nilo
Batista, a proteção da promotora Tânia Salles Moreira também foi retirada sob a mesma
alegação. Na abertura da CPI, que ocorreu no dia dezessete de abril, Volmer relata que
apenas nos primeiros três meses do ano 98 crianças tinham sido executas por grupos de
extermínio em todo o estado. No dia 25/04, Volmer sumiu.
Dois dias depois o coordenador do Movimento Nacional de Proteção ao Menor
reapareceu. Volmer havia sido sequestrado por volta das 13 horas, em frente a Central
do Brasil, por quatro homens que o obrigaram a entrar em um Santana Quantum.
Volmer alega que foi encapuzado e que os homens dirigiram por 25 minutos subindo e
descendo ladeiras. Foi então colocado em um quarto sem janelas, onde permaneceu sem
contato até a madrugada, quando os sequestradores lhe entregaram uma garrafa de água,
cigarro e um pacote de biscoitos. Os sequestradores só reapareceram na madrugada
seguinte, quando colocaram Volmer em uma Kombi e com ele partiram no carro. Eram
quatro homens. Na altura do Viaduto Paulo de Frotin, os raptores estacionaram e
começaram uma discussão. Segundo depoimento, parte do grupo alegava que deveriam
fazer o “trabalho” logo porque corriam risco parados ali. Outro sequestrador, no entanto,
argumentava que deveriam esperar o “chefe”, conforme havia sido combinado. Notando
que as vozes vinham do lado de fora do veículo, Volmer retirou o capuz e notou que a
porta da Kombi estava apenas encostada. Foi então que saiu correndo e conseguiu fugir.
No depoimento que prestou à Polícia Civil, Volmer contou que desconfiava da
participação dos juízes Rubens de Medeiros, da 4ª Vara Criminal de Caxias, e Luiz
César Bittencourt, presidente do 2º Tribunal de Alçada – cujo nome também constava
nas denúncias da promotora Tânia Salles. A polícia e a mídia desde o primeiro momento
desqualificaram o depoimento, pondo em dúvida sua história. Em maio, Volmer presta
novo depoimento à CPI da ALERJ e nele confirma a acusação aos juízes e cita ainda a
participação de mais dois magistrados, Renato Simoni e Mario dos Santos Paula, como
acobertadores de grupos de extermínio na Baixada.